quinta-feira, 19 de novembro de 2009

DIÁRIO DO GUIA # 7 : UM BICHEIRO EM BEVERLY HILLS!

Logo que eu cheguei de volta ao Brasil em janeiro de 68, depois de quase oito meses estudando na Escócia e passeando pela Europa, o que eu mais precisava era de um bom trabalho. E o melhor deles surgiu com meu tio Miguel, diretor da Lowndes Turismo, na época uma das mais chiques agências do Rio de Janeiro, que estava procurando alguém que falasse bem inglês, tivesse experiência em viagens, boas noções de geografia e cultura geral. Não deu outra, em meia hora eu me tornei um agente de viagens, pronto para o que desse e viesse!


E logo de cara atendi a um próspero senhor que queria programar uma viagem para seus pais e toda a família para Los Angeles, Disneylândia, Nova York, Paris e Roma! Eram 12 pessoas: dois avós, três netos adolescentes, dois cunhados com mais três filhos pequenos e uma babá com uma neta de dois anos. Uma verdadeira excursão!

Como ele só queria do bom e do melhor, já que dinheiro não era problema, os hotéis seriam cinco estrelas, três Mercedes-Benz com motoristas à disposição em todas as cidades, passagens de primeira classe e um guia durante a viagem toda, já que o tal avô era um bicheiro aposentado cheio da grana mas que nunca tinha viajado e ninguém da família falava inglês! E quem foi o guia?

Isso mesmo, o Luizinho aqui, que viajou de graça pela primeira vez na vida ganhando uma incrível diária de 40 dólares, uma verdadeira fortuna nos anos 60. Só para dar uma idéia, um sapato do Gucci custava 80 dólares - hoje custa mais de 400! Já viu que eu fiz a festa e voltei com as malas estourando!

Os hotéis foram os melhores: o Beverly Hilton de Los Angeles, o Disneyland Hotel de Anaheim, o Americana em Nova York (hoje Sheraton New York), em Paris o Plaza Athenée e o Excelsior em Roma! E lá fomos nós numa viagem muito engraçada.

Nossa primeira parada foi Los Angeles e a turma adorou o hotel, pois por mais dinheiro que tivessem, nunca tinham visto luxo igual. Ficaram encantados com os grandes e bem decorados quartos. O meu tinha uma enorme cama king-size com colchão d’água, uma grande novidade da época! “You’re gonna swim all night”, brincou o rapaz da recepção.

Mas foi só descer para tomar o café da manhã e a confusão começou: o restaurante era muito requintado, mil garçons à nossa volta, mas êles não gostavam de nada do cardápio e queriam que eu pedisse média com pão na chapa!

Naqueles tempos o único café que os americanos conheciam era o aguado “chafé”, servido na caneca alta com alça e sem pires. Pão só de forma ou croissants doces, e queijo só o francês camembert ou o ardido cheddar! A turma detestou tudo! Um dos garotos pediu “french toast” pensando que era torrada, mas ficou com cara de bobo quando trouxeram rabanadas bem encharcadas! Consegui convencê-los a provar ovos mexidos com presunto, que eles gostaram, mas disseram que era melhor no almoço! Mas pelo menos comeram...

Na hora de sair para visitar Hollywood, o velho bicheiro sempre agarrado a uma surrada sacola da Panam, disse que queria ir a um banco trocar uns traveller-checks por dinheiro vivo. Eu argumentei que seria mais seguro ir trocando aos poucos, mas ele retrucou: “O problema, Luiz, é que eu só sei assinar devagarzinho, e se tiver que assinar cheques nas lojas ou restaurantes eu demoro tanto que fico envergonhado”.

Morri de pena daquele senhor que poderia ser meu avô, cheio do dinheiro e sem saber escrever. Fomos a um banco de Beverly Hills, só eu e ele, conversei com o gerente que achou um absurdo trocar todos os cheques de uma só vez, e lá ficamos mais de três horas numa salinha reservada com o velho desenhando o nome em mais de 30 mil dólares em cheques!

Voltamos ao hotel com a sacola estourando de tantas verdinhas, enfiamos tudo no cofre e fomos passear pela Terra do Cinema.

Daí até o final da viagem na Europa a rotina era a mesma: toda manhã eu e ele íamos até o cofre - que antigamente era na recepção dos hotéis, e não nos quartos, como hoje - pegávamos um bolo de notas que eu punha na bolsinha de dinheiro por dentro da minha calça, e lá ia eu pagando tudo para a turma toda nos restaurantes, parques e lojas! Eu é que parecia o milionário sustentando a turma toda...

Um comentário:

Anônimo disse...

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