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quinta-feira, 30 de julho de 2009

DO FUNDO DO BAÚ

Glasgow, junho de 1967

Minha primeira viagem internacional: ganhei uma bolsa de estudos do British Council e fui para a Escócia estudar tele-jornalismo no Thomson Foundation Television College, durante oito meses!

Os alunos eram todos de países "em desenvolvimento" (cá entre nós, subdesenvolvidos) de todas as partes do mundo, e formamos uma turma bem divertida.

Nos intervalos das aulas nós sentávamos no jardim para aproveitar o fraco sol do outono, pois o frio já começava a mostrar sua força.

No balanço estão o Faux, de Serra Leoa, Formosa, de Chipre, Jack, da Turquia e o Luizinho do Brasil. Leia mais sobre essa minha primeira viagem inesquecível clicando aqui.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

PASSEANDO POR EDIMBURGO

Quando eu fui estudar jornalismo em televisão em Glasgow, na Escócia, as aulas eram das sete da manhã às cinco da tarde de segunda a quinta-feira, com um intervalo de uma hora para almoçar.
Era um curso bem puxado, mas em compensação na sexta-feira as aulas terminavam ao meio-dia, proporcionando um longo fim de semana para passear e conhecer lugares novos.
E lugares novos era o que não faltava na Escócia para conhecer...

Eu e dois colegas sempre alugávamos um Austin Mini-Cooper – que era o carro mais barato da época - e íamos dirigindo pelas estradas na contramão inglesa descobrindo vilarejos, fazendas, cidades históricas, igrejas antigas, muuuuuitas destilarias de uísque e outros lugares bem interessantes.

Uma vez por mês tínhamos um feriadão de quinta a domingo e então aproveitávamos para ir a lugares mais distantes: eu fui umas cinco vezes a Londres, desde então uma das minhas cidades favoritas, e duas para Edimburgo, que é uma graça de lugar.

Na sua próxima ida à Inglaterra aproveite para conhecer a Escócia e em especial a capital, Edinburgh (pronuncia-se “Edinbârâ”), uma pequena e antiga cidade cheia de atrações e lugares bonitos. O seu centro é dividido pela Princes Street, que é a zona comercial mais badalada. Ao sul fica a Cidade Velha que foi crescendo ao longo da Royal Mile, com o Castelo numa ponta e o Palácio Holyroodhouse na outra.

Nessa região estão os melhores exemplos de arquitetura Georgiana, com prédios bem elegantes. A Princes Street tem muitas lojas, galerias de arte e restaurantes, além do parque florido com o monumento a Sir Walter Scott, o famoso Hotel Balmoral e a estação de trem principal, Waverly.
Como Edimburgo é bem compacta, a melhor forma de conhecê-la é a pé, já que de carro você só vai se encrencar, pois o transito é bem confuso.

A Royal Mile resultou da junção de quatro ruas antigas e marca bem o aspecto medieval da cidade. Você pode visitar a Lady Stair’s House, uma casa do século 17 onde moraram os escritores Burns, Scott e Stevenson, hoje um pequeno museu. Próximo a ela fica a Camera Obscura, onde está uma imensa câmera fotográfica fixa que só registrava cenas da cidade, uma verdadeira maravilha na época. Há várias experiências óticas sensacionais para você ver.

O antigo Parlamento, construído em 1630, funciona até hoje e vale a pena entrar para ver os lordes com as perucas brancas e capas pretas e os lindos vitrôs. Entre também na Catedral de St. Giles, em estilo gótico, com uma torre do século 15 e a bela capela construída em homenagem aos cavaleiros da Ordem de Thistle.

Uma visita bem interessante é a do Scotch Whisky Heritage Center, que introduz aos visitantes a famosa bebida escocesa. Você faz um tour que percorre a distilaria e descobre os segredos da arte de fazer uísque, provando maltes puros e como misturá-los para fazer o “blend” perfeito. Cerca de 300 tipos de maltes diferentes estão à sua escolha para provar e depois comprar. Há ainda um bom restaurante, o Amber, que serve comida escocesa típica, com muita caça, cordeiro e salmão selvagem.

Você pode passar algumas horas no complexo das National Galleries, com o melhor museu escocês de belas artes, com destaque especial para as pinturas do século 15 ao 19 e a coleção de obras de artistas alemães e flamengos. Conheça também o Royal Museum e o National Museum of Scotland, um ao lado do outro na Chambers St. com magníficas coleções de antiguidades e peças históricas.

Para ter uma idéia sobre como a realeza se diverte nas férias, vá conhecer o iate real Britannia que está agora ancorado no porto de Leith. Visite os salões e as cabines onde reis, rainhas e príncipes (e Lady Dy também) passaram muitas férias navegando pela Côte d’Azur e outros mares cheios de celebridades.

O bairro do histórico porto com casinhas dos séculos 13 e 14 foi todo remodelado e hoje é um dos melhores lugares para se morar, trabalhar e fazer compras. Vários prédios transformaram-se em lojas de frente para o mar. O Ocean Terminal é bem moderno, com lojas e alguns dos melhores restaurantes de frutos do mar da cidade. Lá está uma das boas lojas de produtos de lã e kilts escoceses, a Kinloch Anderson.

Edimburgo tem dois grandes magazines oferecendo de tudo a preços bem razoáveis: Jenners, a mais antiga da cidade funcionando desde 1838, e John Lewis, a maior de todas.
Aproveite para comprar um suéter de cashemere escocês na loja Pringle, que mesmo sendo caro é um investimento para o resto da vida!
Há ainda uma filial da Harvey Nichols, badalada e cara loja londrina.

Numa das vezes que eu fui a Edimburgo estava acontecendo o maior evento anual da cidade chamado “The Military Tattoo”, que é um festival de bandas de regimentos militares de vários países do mundo que durante três semanas desfilam no pátio do castelo tocando hinos e fazendo evoluções. As arquibancadas ficam lotadas e hoje em dia a festa é transmitida pela TV para o mundo inteiro. O ponto alto é a apresentação dos soldados escoceses com suas gaitas de fole. A barulheira é infernal!

Situado no topo de um vulcão extinto, o Castelo é um conjunto de prédios erguidos ao longo de 8 séculos, tendo sido palácio real, fortaleza, prisão e base militar. Você visita a capela de Santa Margarida, que é o prédio mais antigo, o Argyle Battery com os canhões e a linda vista panorâmica da cidade, o calabouço, a casa do governador e o palácio, onde estão expostas as jóias da coroa escocesa.

O Palácio de Holyroodhouse, que é residência escocesa da rainha Elizabeth II, foi construído em 1498 onde antes existia uma abadia e até hoje tem seus salões abertos para festas e cerimônias públicas. Podem ser visitados os aposentos reais, a sala do trono e o grande salão de banquetes. Na nova Queen’s Gallerie estão expostas obras de arte da Coleção Real.

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Onde se hospedar?

Apesar de um pouco barulhento por estar em plena cidade antiga ao lado da Royal Mile, o Bank Hotel ocupa o prédio de um antigo banco e tem quartos enormes com nomes de escoceses famosos e diárias a partir de 90 libras ou 156 dólares. Bem barato.

Um dos melhores hotéis da cidade é o Caledonian Hilton, na Princes St., considerado uma verdadeira instituição escocesa. Seu restaurante La Pompadour é famoso. Diárias começando em 160 libras ou 280 dólares. Mais caro mas muito bom.

O que comer?

A comida escocesa tradicional é simples mas muito pesada, utilizando carne de boi, porco, cordeiro, legumes, frituras e muitos temperos. O prato mais famoso é o "haggis", um espécie de bolo de carne feito com coração, fígado e pulmões de ovelhas. Apesar da descrição parecer estranha, o prato é delicioso!

"Partan bree" é um creme com arroz e carne de caranguejo, e "abroath smokies" são pedaços de hadock defumado sobre batatas e alcaparras.

"Steak pie" é uma grande empada de carne com legumes muito popular.

O "red pudding" na verdade é uma grande salsicha vermelha de carne de porco e "cullen skink" uma delícia de sopa de bacalhau com batata e cebolas. A melhor sopa é o "scotch broth", que mistura cevada, carne e vegetais, e a melhor sobremesa é a "cranachan", feita com creme de leite, uísque, mel e framboesas. Ótima!

Onde comer bem:

The Atrium - 10, Cambridge St. - 0131 228-8882
Com decoração chique mas informal, oferece boas opções de comida escocesa moderna.No Blue Bar do andar de cima o cardápio é internacional. Bom e barato.

The Witchery - Castlehill, Royal Mile - 0131 225-5613
Ao lado da entrada do castelo, ambiente tradicional com culinária de primeira linha.

Sweet Melindas
- 11 Roseneath St., Marchmont - 0131 229-7953
Os melhores peixes e frutos do mar da cidade com um leve toque asiático.

Se você gosta de jazz, não deixe de ir ao Jazz Bar - 1 Chambers St. - 0131 220-4298
Lugar, drinques e música da melhor qualidade...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

VOANDO PELOS CAMPOS DA ESCÓCIA!

A primeira viagem internacional que eu fiz na vida foi para a Escócia! Eu estava na Puc cursando o segundo ano de Jornalismo quando o professor de telejornalismo foi contatado pelo British Council para indicar um aluno que falasse inglês e que quisesse passar os próximos oito meses em Glasgow, no Thompson Foundation Television College, uma escola superior que só aceitava bolsistas de países subdesenvolvidos, como o Brasil, para se especializar em jornalismo televisivo.

Fui conversar com o cônsul e no dia seguinte ele me ligou dando a boa notícia de que eu teria que embarcar em menos de um mês! A passagem era por minha conta, mas lá tudo estava incluído: acomodações, transporte, todas as refeições, o curso, o material didático, passeios nos fins de semana e ainda uma boa ajuda de custos semanal de 15 libras!

Tranquei a matrícula, dei uma boa cantada nos meus pais que compraram uma passagem baratinha pela Aerolineas Argentinas via Madrid e lá fui eu sozinho na minha primeira aventura internacional! O vôo saiu do Rio à noite e com os atrasos, esperas e fuso horário cheguei ao aeroporto de Glasgow na noite escura do dia seguinte!

Quando peguei um táxi e o motorista falou comigo não entendi absolutamente nada! Que língua era aquela que o cara falava? Inglês não podia ser, pois eu sabia falar inglês. Mostrei o papel com o endereço e quando ele leu em voz alta é que eu percebi que os escocêses falam com um sotaque muito carregado, puxando nos “erres”, meio gutural e cantado, parecendo alemão.

Tive que fazer um esforço danado para tentar entender aquela língua estranhíssima. Na escuridão total o motorista dirigia pela esquerda que nem um alucinado e só os faróis iluminavam a estrada, pois não havia postes ou sinal algum de casas iluminadas. Nem sei como ele achou o nosso destino. Levei um susto, pois era uma enorme mansão, quase um castelo de pedra, com cara de mal assombrada, no meio do nada, sem nenhuma outra casa por perto, nenhuma luz à distância.

Ao bater na grande porta de madeira outra surpresa: uma empregada muito bonitinha, mas falando outro tipo de inglês que eu também não conseguia decifrar: agora era uma mistura de “cockney” brabo com o tal som meio alemão! E ela falava e falava e eu não entendia nada! Cansado, morto de sono e completamente confuso com tudo, resolvi seguir a moça por um corredor e acabei chegando ao que seria o meu quarto. Entrei, tirei a roupa, caí na cama e apaguei, não sem antes pensar bem arrependido: o que foi que eu vim fazer aqui?

No dia seguinte, um domingo, acordei e a primeira coisa que fiz foi olhar pela janela: a mansão ficava no meio de um campo verde maravilhoso, vizinho a várias fazendas de criação de ovelhas “shetland”, aquelas com as carinhas pretas, e uma delas estava exatamente olhando para mim do lado de fora da janela. Saí do quarto meio perdido, mas um cheirinho ótimo de bacon com ovos me puxou até a sala de refeições onde não havia ninguém, só os réchauds com comida e os bules de chá e café! Fui até a cozinha e quatro empregadas além daquela da véspera fizeram a maior festa, pois eu era o primeiro aluno a chegar.

Tomei café com elas na cozinha mesmo e aos poucos fui sacando o difícil sotaque. Finalmente comecei a entender o que as matracas falavam! Saí para dar uma volta pelo campo e ver de perto os carneiros e quase tropecei num casal de coelhinhos marrons que andavam soltos pela grama. O silêncio era incrível, pois estávamos a meia hora do centro de Glasgow, numa região chamada Newton Mearns, em Renfrewshire, em pleno campo escocês. Montanha, nenhuma. Era início de julho, supostamente verão, mas a temperatura devia ser de uns 15 graus! Mas o sol brilhando naquele céu azul me esquentou logo. E aí eu pensei: eu não vou é querer mais voltar para o Brasil...

Nesse dia de tarde o Dean (reitor) interrompeu seu sagrado week-end e veio especialmente me receber oficialmente. Batemos um papo - graças a Deus ele tinha nascido em Londres e o seu “british accent” era perfeito! - enquanto tomávamos algumas xícaras de chá – que durante os meses seguintes foi a bebida que eu mais bebi na minha vida - e depois fomos de carro até Glasgow para que eu conhecesse um pouco a cidade. Na segunda-feira chegou a galera da África, Vietnam, Grécia, Tailândia, Peru e outros países lotando o colégio. Em pouco tempo já estávamos amigos e o companheirismo ajudava a esquecer a saudade de casa e a dureza do curso.

Para relaxar nos fins de semana sempre inventávamos o que fazer, alugando uns mini-Austins e saindo a toda pelas estradas na (nossa) contramão, e apesar do pouco tráfego de repente levávamos o maior susto ao dar de cara com um daqueles ônibus vermelhos de dois andares bem na nossa frente logo depois da curva! Tentamos mas nunca conseguimos ver o Monstro do Loch Ness, conhecemos as famosas “Highlands” (que de high não tinham nada), fazíamos piqueniques na beira dos mil lagos, visitamos várias destilarias de whisky (onde "provávamos" de tudo e quase entrávamos em coma alcóolica depois), várias lojas que vendiam os diversos “tartans” dos clãs mais conhecidos, bebíamos todas as cervejas até os pubs fecharem, e assistimos até cansar a concertos de gaitas de fole. Em alguns fins de semana com feriados fomos várias vezes a Edinburgh (que se pronuncia Édinbârâ) e Londres. Em outros éramos convidados para jantar nas fazendas e provar os quitutes locais, ótimos por sinal, como "kidney pie".

Mas o melhor de tudo era cavalgar os imensos e fortões cavalos “percheron” da fazenda vizinha ao College e passear por aquele campo verde sem fim. Os capatazes da fazenda nos faziam mil recomendações: os animais eram de raça pura e como fazia muito frio tínhamos que andar a passo lento pelo menos por meia hora antes de trotar pela estrada de terra para que esquentassem a musculatura e nem pensar em galopar pois era perigoso para nós e para eles, que podiam ter câimbras ou distender algum músculo e nos derrubar das selas. Como não cobravam aluguel e os nossos passeios eram uma forma de exercitar os cavalos, tínhamos que obedecer à risca às instruções...

Passear pelo campo é uma expressão suave para dizer que nós “voávamos” alucinadamente! Quem disse que conseguíamos segurar os bichos? Nós íamos saindo da fazenda passo a passo, devagarzinho, puxando as rédeas o mais que podíamos, com os cavalos lutando e cabeceando contra a nossa força. Quando viravam a curva da estrada e viam o campo livre pela frente, ah, os bichos enlouqueciam, davam um tranco com a cabeça, nós soltávamos as rédeas e a manada selvagem saía da estrada, saltava as cercas e adeus recomendações! Os cavalos corriam que nem uns desesperados, no maior galope, soltando fumaça pelas narinas, pulando de qualquer jeito as cercas e troncos caídos! E nós nos segurando como podíamos, com aquele o gelado na nossa cara!

Os africanos, de terno – não sei por que - que nunca haviam cavalgado na vida, ficavam apavorados e iam gritando sem parar “Luiz, we’re gonna die!”, agarrados nas selas inglesas tentando não cair. Eu e o peruano Hugo, os únicos daquela turma que já tinham andado a cavalo antes, íamos à frente a mil por hora, às gargalhadas e morrendo de medo também. E não havia nada a fazer a não ser deixar-se levar pela fúria dos cavalos, que só depois de uns 40 minutos começavam a cansar e a diminuir a velocidade. Mas era só os bichos reconhecerem o caminho de volta para a fazenda que disparavam novamente como bólidos enlouquecidos e só diminuíam a velocidade quando passavam o portão! E entrávamos no pátio da fazenda no mesmo passinho devagar, os cavalos cobertos de espuma e nós exaustos, suados, os cabelos esticados para trás e com a adrenalina ainda todo o vapor! E os empregados, que nem desconfiavam das corridas, nos agradeciam e davam parabéns pelo exercício que fizemos!

E nos sábados seguintes os africanos eram os primeiros a perguntar se não íamos andar a cavalo de novo! E querem saber da maior? Nunca ninguém caiu dos cavalos! Acho que Saint Andrew, o santo patrono da Escócia, lá de cima velava pelos loucos cavaleiros!