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sexta-feira, 22 de maio de 2009

ENFRENTANDO TERREMOTOS E FURACÕES!

Na primeira vez que eu aterrissei na Cidade do México o aeroporto estava em greve e não havia um só carregador que pudesse pegar as malas do meu grupo. Por isso eu é que tive que tirá-las da esteira, colocá-las num grande trólei e arrastar a pilha de bagagem até o ônibus que nos levaria ao hotel. Eu era o guia de uma excursão de 45 pessoas, em sua maioria senhoras idosas, que eu já contei aqui. Quando terminei essa função, eu estava quase desmaiado e com a cabeça completamente oca por ter feito muito esforço naquela altitude toda.

Cheguei ao hotel, distribuí as chaves, fui para o quarto, abri o frigobar, peguei umas garrafinhas de uísque e entrei na banheira para relaxar. Dei um gole, fechei os olhos e de repente tudo tremeu! Pensei que aquele era o uísque mais forte que eu tinha tomado na vida, mas quando abri os olhos tudo parou. Fechei de novo e o tremor desta vez foi tão forte que a água da banheira transbordou! Que uísque que nada, era um terremoto! Saí pingando pelo quarto, telefonei para a portaria e me disseram para ficar debaixo da soleira de uma porta e esperar o próximo tremor! Que medo, principalmente porque o meu quarto era no 12º andar do Sheraton Maria Isabel. E vieram mais dois tremores, menores que os outros, mas o suficiente para derrubar coisas das prateleiras do banheiro.

E eu lá que nem uma estátua grega, pelado e paralisado entre o quarto e o banheiro, sem saber o que fazer. Graças a Deus os tremores pararam e eu me vesti e desci pelas escadas para ver se tinha acontecido algum dano sério. No lobby as pessoas circulavam como se nada tivesse acontecido, aquele entra e sai de turistas e empregados na maior tranqüilidade! Encontrei várias senhoras do grupo tomando drinques no bar e quis saber se não tinham ficado com medo do terremoto. “Terremoto? Que terremoto? Luiz, eu acho que você bebeu...” foi o que eu ouvi antes de falar com o gerente que explicou que os tremores pequenos (!) como aqueles eram sentidos nos andares mais altos, e que nos mais baixos (onde a turma estava) quase nada tremia. Nos sete dias seguintes eu senti vários outros temores, mas aí já estava escolado e não me apavorava mais...

Outra vez eu estava em Miami Beach nos dois últimos dias de outra interminável excursão da Stella Barros de 45 dias pelos Estados Unidos quando soubemos que um furacão estava chegando! A tempestade tropical ainda estava sobre as Bahamas, mas se deslocava rapidamente em direção da Flórida.

Mesmo ainda longe do continente, o vento era tão forte que empurrou todas as mesas, cadeiras e guarda-sóis para dentro da piscina do hotel, virando vasos e derrubando treliças! Quando fomos a pé para as últimas comprinhas, o vento de ré empurrava para a frente, nos fazendo correr mesmo sem vontade! Na volta, o vento de frente nos obrigava a fazer força para andar, e as sacolas tinham que ser seguradas junto ao corpo para não saírem voando! E várias saíram!

À noite na televisão os alertas eram cada vez mais freqüentes enquanto da janela do quarto eu via os coqueiros da praia balançando freneticamente, quase na horizontal, e o vento formava nuvens de areia que aos poucos iam cobrindo as ruas de branco! Nosso vôo estava programado para a tarde do dia seguinte, mas já corriam notícias de que o aeroporto ia fechar. Toca o telefone e era a própria D. Stella Barros, que também estava hospedada no mesmo hotel, pedindo para eu dar um pulinho no quarto dela.

Ela abre a porta, me faz entrar, nos serve duas boas doses de uísque e começa a bater papo como se nada estivesse acontecendo, enquanto eu via lá fora o céu cheio de clarões dos raios. Depois de mais de uma hora de conversa fiada ela se despede e me pede para trazer para o Rio “um pacote” dela cheio de folhetos e roupa suja. E quem era eu para recusar um pedido da dona da agência? No dia seguinte, na hora em que colocávamos as malas no ônibus em meio à maior ventania, surge o tal pacote trazido por um empregado: era um caixote enorme, do tamanho de uma máquina de lavar roupa! E lá fomos nós para o aeroporto, o ônibus chacoalhando pela força do vento, as árvores quase desfolhadas balançando muito, placas e pedaços de madeira voando, e todo mundo apavorado. O furacão desta vez estava chegando mesmo.

Não acreditei quando o rapaz do check-in disse que o vôo estava no horário e que sairia numa boa. Embarcamos e a decolagem foi das mais palpitantes, com o imenso Jumbo corcoveando bastante durante uns 10 minutos. Depois a coisa acalmou e viemos tranquilamente até o Rio. Nos jornais brasileiros do dia seguinte li que o nosso foi o último vôo que levantou naquele dia. O aeroporto fechou logo em seguida e só reabriu dois dias depois.

O que não foi tranqüila foi a passagem pela alfândega, pois mandaram abrir o tal caixote e de dentro saiu uma moderna mesa de aço e acrílico! Tive que pagar uma taxa bem alta (com o dinheiro da agência, lógico) para liberar a tralha, depois de horas discutindo com os agentes policiais...

Em 1969, em Los Angeles, eu fiquei uns dias hospedado na casa da Gracinha Leporace, cantora do conjunto Bossa Rio que morava no bairro de Reseda, em San Fernando Valley, num ótimo sala e quarto. O prédio tinha quatro andares na forma de um quadrado e uma grande área de lazer no espaço interno com jardins tropicais e duas piscinas. As janelas dos apartamentos davam para as montanhas e as freeways sempre cheias de carros.

Como ela viajou por duas semanas em turnê com o Sergio Mendes e o Brasil 66 para o Japão, saí de um motel horroroso e me mudei para lá de armas e bagagens. Mas como acabei indo de carro para Nova York na tal aventura que já contei aqui, deixei uma mala no apartamento e só voltei 15 dias depois.

Nesse meio tempo aconteceu um dos mais fortes terremotos da Califórnia, destruindo casas, prédios e auto-estradas na Cidade dos Anjos e redondezas. Nós só soubemos disso no meio do caminho de volta, pela televisão de um motel no Grand Cânion, e ficamos preocupados com a turma amiga que morava em L.A.

Quando chegamos de volta ligamos para todos e nada de ruim tinha acontecido com ninguém, mas o bairro de Reseda fora bem afetado. Dirigi até o prédio da Gracinha, tendo que dar voltas para evitar as freeways destruídas, e levei um susto ao ver de longe que toda a fachada lateral do condomínio tinha caído, deixando os apartamentos abertos, sem janelas, como grandes vitrines! Da rua dava para ver tudo dentro de cada casa, quadros, móveis, lustres, uma sensação estranhíssima.
E lá no quarto andar, no terceiro buraco da esquerda, junto à porta do banheiro, estava a minha mala de xadrez vermelha quase caindo na rua!

Nem sei como consegui passar pela turma da segurança pública que só deixava entrar moradores, mas subi acompanhado de um operário de capacete protetor e com muito cuidado entrei no apartamento, peguei minha mala e me mandei!
Terremotos, nunca mais!

sábado, 24 de maio de 2008

DO FUNDO DO BAÚ!

Quioto, junho de 1973:

Primeira viagem ao Japão como guia: cabelão, magro, jeans GAP boca de sino, jaqueta Porsche, fazendo a maior pose em frente ao Templo de Ouro - Kinka Ku - em Quioto.

Do lado de trás da câmera trinta passageiros da excursão da Stella Barros imploravam ao guia para levá-los ao McDonalds para almoçar... Depois de dez dias no Japão ninguém aguentava mais sashimis ou sushis!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

AMÉRICA DO NORTE DE PONTA À PONTA!

No início dos anos 70 eu fui levado por uma amiga para conhecer a famosa D. Stella Barros, dona de uma das maiores agências de turismo da época e que estava sempre precisando de guias para acompanhar suas muitas excursões. Conversamos um pouco e logo vi que ficaríamos amigos, apesar da grande diferença de idade. E ficamos, pois ela era animadíssima e adorava viajar também. E o resultado foi que durante alguns anos levei vários grupos da agência dela e por várias vêzes nos encontramos pelo mundo afora, eu como guia e ela aproveitando as suas férias!

Como eu era fotógrafo e modelo free-lancer, podendo adiar alguns compromissos, dois dias depois do nosso papo eu já estava embarcando num avião da Pan Am com 45 brasileiros numa excursão que depois eu acompanhei mais três vezes nos anos seguintes. Chamava-se “América do Norte de Ponta a Ponta” e visitava as principais cidades do México, Estados Unidos e Canadá em exatos 45 dias! Era um senta-e-levanta danado, voávamos pelo menos umas 10 vezes, viajávamos também de ônibus, mas as novidades eram muitas e a turma adorava. E você conhecia o melhor de cada lugar.

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A maratona começava na Cidade do México – visitávamos em 3 dias o Museu de Antropologia, os jardins flutuantes de Xochimilco, as Pirâmides do Sol e da Lua e passeávamos muito pela Zona Rosa. De lá íamos de ônibus almoçar em Cuernavaca e chegávamos ao final da tarde para dormir em Taxco, a cidade das minas de prata. Lá a programação incluía a Igreja de Santa Prisca, maravilhosa, e à noite o show dos índios voadores, uns nativos malucos que amarravam cordas nos pés e saltavam de um poste com mais de 15 metros de altura, tipo um “bungee-jump” de pobre, e alguns batiam com a cabeça no chão de pedra! E não sei também como não quebravam os tornozelos, pois as cordas não eram elásticas e o tranco era bem forte...

O hotel era a Posada de la Misión, uma “hacienda” antiga com quartos aconchegantes com vigas de madeiras nos tetos e lareiras sempre acesas. Como a cidade é tombada pelo Patrimônio Histórico e carros não entram, nossas malas eram transportadas nos lombos de burricos que adoravam beber cerveja! Você dava umas moedas para os garotos e eles metiam uma garrafinha de Sol entre os dentes dos bichos que bebiam até a última gota, relinchando de felicidade. Nos jardins os enormes iguanas com as bocas costuradas – para não morder – eram as atrações das nossas fotos!

No dia seguinte estávamos em Acapulco, o famoso balneário freqüentado pelos astros de Hollywood. Nós alugavamos jipes conversíveis e era o dia inteiro pra lá e pra cá, conhecendo todas as praias e fazendo muito “parasail”. O hotel era o espetacular Acapulco Princess. Três dias depois de muita praia e muitas margaritas voávamos para Los Angeles. Na hora de ir para o aeroporto eu tinha que pegar uns desgarrados que ainda estavam enchendo a cara na praia e que embarcavam de calção, camiseta e sandália, bem doidões e sujos de areia!

Passeios por Hollywood, Beverly Hills, Marineland of the Pacific (o Seaworld da época) e uma ida à Disneylândia em Anaheim e ao Hollywood Wax Museum nos mantiam bem ocupados nos 4 dias passados em L.A.

Aí chegava a vez de Las Vegas, com o tal avião da “Champagne Airlines” que sacolejava o tempo todo. O hotel era o Flamingo – o mais conhecido da cidade, antes dos hotéis temáticos de agora – e os shows eram com Harry Belafonte, The Carpenters, Tony Bennet, Jack Jones e, acredite se quiser: Liberace!

Mais um vôo rápido e estávamos em San Francisco! Muitos passeios de “cable-cars”, idas a Chinatown, Fisherman’s Wharf, Sausalito, Carmel e Monterey, além de comer muitos “king crabs” e peixes maravilhosos. O hotel era o Hilton, como em todas as outras cidades dos USA da excursão. Nessa época tinha acabado de inaugurar uma lojinha simpática e barata onde compramos muitas camisetas, bermudas e jeans. Chamava-se GAP! Já ouviu falar?

Um longo vôo no primeiro Jumbo 747 da Pan American que eu viajei na vida e chegamos a Chicago, ficando no Conrad Hilton de frente para o lago Michigan que mais parece um mar de tão grande. O grupo ficou muito impressionado porque a maioria dos empregados do hotel e da população era negra. Apesar de educados e simpáticos, chamavam muita atenção pelas roupas extravagantes, pois era o final dos anos do “flower-power”, hippies, cores e drogas psicodélicas, cabelos “black power” e música do Marvin Gaye tocando o dia todo. Passeamos muito, visitamos o sensacional Museu da Ciência e Indústria, mas a turma ficou aliviada quando embarcamos para Buffalo, na fronteira com o Canadá.

Niagara Falls é “o” ponto turístico por excelência, pois tudo foi construído em função e em volta da linda cachoeira para que os visitantes possam vê-la de todos os ângulos possíveis. Você pode passar de barco quase debaixo dela em meio à maior neblina de água, pode descer por elevadores cavados na rocha até a sua base e quase ficar surdo com o barulho ensurdecedor - e mesmo usando fedorentas capas de plástico amarelo e enormes botas de borracha o banho é total! Você sai um pinto! Pode ainda vê-la de vários pontos das suas margens, passar na frente dela de bondinho aéreo ou subir numa das muitas torres com deques giratórios de dia ou de noite. E é só o que a cidade tem, além de passeios pelos parques floridos, diversos restaurantes, e um monte de suvenires para comprar. Mas era uma parada perfeita para descansar bem no meio do extenso itinerário.

De lá nós pegávamos um moderno ônibus canadense e visitávamos Niagara on the Lake, uma graça de cidade antiga, e seguíamos para três dias em Toronto, outros três em Ottawa, dois em Quebec e mais três em Montreal! Todos do grupo sempre ficavam impressionados com as paisagens e a limpeza das cidades, os prédios históricos, museus e parques, além dos excelentes hotéis e o comércio bem barato por conta da desvalorização do dólar canadense. E de ônibus nós voltávamos a entrar nos Estados Unidos passando por Saratoga – uma pequena cidade famosa pelos haras e corridas de cavalos, e chegávamos em grande estilo ao Hilton de Nova York!

Aí era uma festa: museus, Broadway, muitas compras, passeios que sempre incluíam uma subida ao terraço do extinto World Trade Center e até um cruzeiro à volta da ilha de Manhattan que ia até a Estátua da Liberdade. Nessa época existiam na Rua 46 várias lojas chamadas “de brasileiros” que eram verdadeiras espeluncas atravancadas de prateleiras e caixas até o teto que vendiam exatamente tudo que a brasileirada queria: toalhas de mesa de plástico, batons, maquiagem e cremes da Revlon, baralhos de plástico KEM, calças Lee e Levi’s, sapatos Top Sider, talheres com cabo de bambu dourados, rádios portáteis, câmeras e muito mais.

O que a turma adorava era que os vendedores falavam português, sabiam os tamanhos das roupas e, o mais importante, não cobravam a famosa “plus tax”, desde que as compras fossem pagas em dinheiro vivo!
Mas cá entre nós, para mim o mais importante é que essas lojas davam 10% de comissão para os guias que levassem lá seus passageiros – perfeito para quem já estava no 30º dia de viagem e sem cartão de crédito, já que os primeiros cartões brasileiros com validade internacional só apareceram em 1992...

Pensa que a viagem acabou? Nada disso! Depois de mais um vôo estávamos em Washington D.C. visitando os monumentos e museus maravilhosos. De lá pegávamos o penúltimo vôo da excursão para a Terra do Mickey e chegávamos ao Walt Disney World, que tinha acabado de inaugurar em Orlando e era a grande novidade do momento! E como acontece até hoje os adultos viravam crianças no Magic Kingdom, que era o único parque aberto. O Epcot Center ainda estava só no papel. O hotel era o Hilton de Lake Buena Vista, excelente até hoje.

De ônibus chegávamos a Cypress Gardens e víamos um dos shows espetaculares de esqui aquático. Mais um pouco de estrada e Miami nos esperava para o término da viagem. O hotel era o imenso Fontainebleau, que os americanos chamam de "fountainblue", ótimo, mas meio fora de mão para a turma que só queria passear pela Flagler Street, cheia de lojas. Víamos os papagaios do Parrot Jungle, o palácio Vizcaya, e mais golfinhos e focas no pequeno e antiquado Seaquarium. E o pessoal corria para as últimas comprinhas que sempre incluíam mais uma mala – e como lá também havia as tais lojas de brasileiros, no último dia eu recebia os 10% que muitas vezes, dependendo do tamanho do grupo e da sanha consumista da turma, chegava a mais de mil dólares!

E eu pegava a minha grana e ia para o Bal Harbour, o shopping mais bonito da Flórida, para comprar roupas numa outra loja transadérrima e baratíssima que também acabara de abrir: a Banana Republic. Bons tempos aqueles...