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sexta-feira, 22 de maio de 2009

ENFRENTANDO TERREMOTOS E FURACÕES!

Na primeira vez que eu aterrissei na Cidade do México o aeroporto estava em greve e não havia um só carregador que pudesse pegar as malas do meu grupo. Por isso eu é que tive que tirá-las da esteira, colocá-las num grande trólei e arrastar a pilha de bagagem até o ônibus que nos levaria ao hotel. Eu era o guia de uma excursão de 45 pessoas, em sua maioria senhoras idosas, que eu já contei aqui. Quando terminei essa função, eu estava quase desmaiado e com a cabeça completamente oca por ter feito muito esforço naquela altitude toda.

Cheguei ao hotel, distribuí as chaves, fui para o quarto, abri o frigobar, peguei umas garrafinhas de uísque e entrei na banheira para relaxar. Dei um gole, fechei os olhos e de repente tudo tremeu! Pensei que aquele era o uísque mais forte que eu tinha tomado na vida, mas quando abri os olhos tudo parou. Fechei de novo e o tremor desta vez foi tão forte que a água da banheira transbordou! Que uísque que nada, era um terremoto! Saí pingando pelo quarto, telefonei para a portaria e me disseram para ficar debaixo da soleira de uma porta e esperar o próximo tremor! Que medo, principalmente porque o meu quarto era no 12º andar do Sheraton Maria Isabel. E vieram mais dois tremores, menores que os outros, mas o suficiente para derrubar coisas das prateleiras do banheiro.

E eu lá que nem uma estátua grega, pelado e paralisado entre o quarto e o banheiro, sem saber o que fazer. Graças a Deus os tremores pararam e eu me vesti e desci pelas escadas para ver se tinha acontecido algum dano sério. No lobby as pessoas circulavam como se nada tivesse acontecido, aquele entra e sai de turistas e empregados na maior tranqüilidade! Encontrei várias senhoras do grupo tomando drinques no bar e quis saber se não tinham ficado com medo do terremoto. “Terremoto? Que terremoto? Luiz, eu acho que você bebeu...” foi o que eu ouvi antes de falar com o gerente que explicou que os tremores pequenos (!) como aqueles eram sentidos nos andares mais altos, e que nos mais baixos (onde a turma estava) quase nada tremia. Nos sete dias seguintes eu senti vários outros temores, mas aí já estava escolado e não me apavorava mais...

Outra vez eu estava em Miami Beach nos dois últimos dias de outra interminável excursão da Stella Barros de 45 dias pelos Estados Unidos quando soubemos que um furacão estava chegando! A tempestade tropical ainda estava sobre as Bahamas, mas se deslocava rapidamente em direção da Flórida.

Mesmo ainda longe do continente, o vento era tão forte que empurrou todas as mesas, cadeiras e guarda-sóis para dentro da piscina do hotel, virando vasos e derrubando treliças! Quando fomos a pé para as últimas comprinhas, o vento de ré empurrava para a frente, nos fazendo correr mesmo sem vontade! Na volta, o vento de frente nos obrigava a fazer força para andar, e as sacolas tinham que ser seguradas junto ao corpo para não saírem voando! E várias saíram!

À noite na televisão os alertas eram cada vez mais freqüentes enquanto da janela do quarto eu via os coqueiros da praia balançando freneticamente, quase na horizontal, e o vento formava nuvens de areia que aos poucos iam cobrindo as ruas de branco! Nosso vôo estava programado para a tarde do dia seguinte, mas já corriam notícias de que o aeroporto ia fechar. Toca o telefone e era a própria D. Stella Barros, que também estava hospedada no mesmo hotel, pedindo para eu dar um pulinho no quarto dela.

Ela abre a porta, me faz entrar, nos serve duas boas doses de uísque e começa a bater papo como se nada estivesse acontecendo, enquanto eu via lá fora o céu cheio de clarões dos raios. Depois de mais de uma hora de conversa fiada ela se despede e me pede para trazer para o Rio “um pacote” dela cheio de folhetos e roupa suja. E quem era eu para recusar um pedido da dona da agência? No dia seguinte, na hora em que colocávamos as malas no ônibus em meio à maior ventania, surge o tal pacote trazido por um empregado: era um caixote enorme, do tamanho de uma máquina de lavar roupa! E lá fomos nós para o aeroporto, o ônibus chacoalhando pela força do vento, as árvores quase desfolhadas balançando muito, placas e pedaços de madeira voando, e todo mundo apavorado. O furacão desta vez estava chegando mesmo.

Não acreditei quando o rapaz do check-in disse que o vôo estava no horário e que sairia numa boa. Embarcamos e a decolagem foi das mais palpitantes, com o imenso Jumbo corcoveando bastante durante uns 10 minutos. Depois a coisa acalmou e viemos tranquilamente até o Rio. Nos jornais brasileiros do dia seguinte li que o nosso foi o último vôo que levantou naquele dia. O aeroporto fechou logo em seguida e só reabriu dois dias depois.

O que não foi tranqüila foi a passagem pela alfândega, pois mandaram abrir o tal caixote e de dentro saiu uma moderna mesa de aço e acrílico! Tive que pagar uma taxa bem alta (com o dinheiro da agência, lógico) para liberar a tralha, depois de horas discutindo com os agentes policiais...

Em 1969, em Los Angeles, eu fiquei uns dias hospedado na casa da Gracinha Leporace, cantora do conjunto Bossa Rio que morava no bairro de Reseda, em San Fernando Valley, num ótimo sala e quarto. O prédio tinha quatro andares na forma de um quadrado e uma grande área de lazer no espaço interno com jardins tropicais e duas piscinas. As janelas dos apartamentos davam para as montanhas e as freeways sempre cheias de carros.

Como ela viajou por duas semanas em turnê com o Sergio Mendes e o Brasil 66 para o Japão, saí de um motel horroroso e me mudei para lá de armas e bagagens. Mas como acabei indo de carro para Nova York na tal aventura que já contei aqui, deixei uma mala no apartamento e só voltei 15 dias depois.

Nesse meio tempo aconteceu um dos mais fortes terremotos da Califórnia, destruindo casas, prédios e auto-estradas na Cidade dos Anjos e redondezas. Nós só soubemos disso no meio do caminho de volta, pela televisão de um motel no Grand Cânion, e ficamos preocupados com a turma amiga que morava em L.A.

Quando chegamos de volta ligamos para todos e nada de ruim tinha acontecido com ninguém, mas o bairro de Reseda fora bem afetado. Dirigi até o prédio da Gracinha, tendo que dar voltas para evitar as freeways destruídas, e levei um susto ao ver de longe que toda a fachada lateral do condomínio tinha caído, deixando os apartamentos abertos, sem janelas, como grandes vitrines! Da rua dava para ver tudo dentro de cada casa, quadros, móveis, lustres, uma sensação estranhíssima.
E lá no quarto andar, no terceiro buraco da esquerda, junto à porta do banheiro, estava a minha mala de xadrez vermelha quase caindo na rua!

Nem sei como consegui passar pela turma da segurança pública que só deixava entrar moradores, mas subi acompanhado de um operário de capacete protetor e com muito cuidado entrei no apartamento, peguei minha mala e me mandei!
Terremotos, nunca mais!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DO FUNDO DO BAÚ!

Janeiro de 1986, pagando o maior mico na Flórida!

Com a guia Mariana no Parrot Jungle de Miami fazendo pose com as araras infernais que ficavam gritando sem parar e beliscando nossas orelhas. Tudo para garantir uma boa foto de recordação para o grupo da Tia Eliane!

Em Orlando, no café da manhã com os personagens Disney no Hotel Contemporary, todo dia o Pateta vinha me agarrar! Parecia fixação! Bastava eu entrar no restaurante e ele logo vinha correndo me abraçar e fazer cócegas! Só depois é que eu descobri que dentro da fantasia tinha uma mulher. Bem bonitinha, aliás...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

SOUTH BEACH: A RIVIERA AMERICANA

Nos últimos 15 anos, na ponta sul do banco de areia que é Miami Beach, South Beach tornou-se conhecida como a Riviera Americana, borbulhando de atividades dia e noite e simbolizando um novo mundo de excentricidade e maluquice numa área de dez quarteirões da 5th à 14th Streets, entre a Collins Avenue e a Ocean Drive, na beira da praia.

Passear por lá é ser transportado para os anos 30 e 40, com mais de 800 prédios do mais puro estilo Art Decô, com detalhes esculpidos e linhas aerodinâmicas, pintadas com toda a gama de tons pastel e iluminadas por quilômetros de ofuscantes luzes néon na noite que não acaba.

Nas minhas primeiras idas a Miami, nos anos 70, eu só passava por ali a caminho de North Miami Beach, onde ficavam os grandes condomínios e os hotéis mais cotados, como o Fountainebleau, o Carrillon e o Doral on the Ocean. Nos pequenos edifícios de aluguel baixíssimo de South Beach moravam centenas de aposentados que passavam o resto de suas vidas sentados em cadeirinhas de praia nas calçadas jogando cartas. O clima quente transformou South Beach no paraíso dos idosos que tinham a pele mais curtida do que couro de jacaré de tanto se expor ao sol.

Além dos velhinhos, muitos prédios abandonados foram invadidos por traficantes de drogas, imigrantes cubanos ilegais e marginais, transformando a então calma região em palco de tiroteios e perseguições policiais. De repente em 1979 a Prefeitura tombou o bairro como Local Histórico e felizmente tudo começou a mudar. Por coincidência no início dos anos 80 fez muito sucesso na TV o seriado Miami Vice, que chamou atenção para a área e ajudou na divulgação da nova cidade que estava nascendo.

Os grandes investidores viram a possibilidade de ganhar dinheiro e aos poucos os edifícios caindo aos pedaços foram comprados, os velhotes realocados para outras bandas e com incentivos do governo todos os antigos hotéis foram reformados mantendo o mesmo estilo Art Decô, e novos cafés, restaurantes e lojas surgiram por todos os lados!

É nesse bairro que hoje hotéis luxuosos dividem as ruas cheias de palmeiras com pequenas pensões para jovens, onde mochileiros trocam dicas de viagens, celebridades do jet-set se encontram para discutir literatura, política e arte, e top models e rapazes musculosos posam para as revistas de moda no meio da Ocean Drive. O lugar tornou-se também uma Meca para caçadores de talento, artistas, cantores e produtores, atraídos pela fauna local.

Você encontra de tudo por lá: cada vez mais gente chega de todos os cantos do mundo, formando uma população flutuante das mais exóticas: ricos nova-iorquinos, investidores da América Latina, hoteleiros europeus, imigrantes cubanos e judeus, gays e lésbicas de montão. Nesse mosaico cultural pontificam agora também os mais badalados “chefs” do país que criaram uma “cuisine” misturando sabores americanos, latinos e caribenhos: é a Miami New World! E as boates e clubes bombam do entardecer até o meio-dia do dia seguinte, quando os mais atléticos já estão há horas patinando pelas ruas.

Se você sentar num dos muitos cafés com mesinhas nas calçadas e até nas ruas, com certeza vai ver a Gloria Estefan (que é dona do Hotel Cardozo) e o John Secada, astros locais, o Elton John e a Oprah Wimfrey fazendo compras nas chiques delicatessem, ou a Cameron Diaz dando ordens no seu restaurante, o Bambu, na Lincoln Road. Isso sem falar nas equipes de filmagem – há sempre um filme sendo rodado lá.

Uma vez eu me hospedei no Hotel Cavalier – onde tudo no quarto era colorido (paredes lilás, colcha azul, almofadas vermelhas e roxas, cadeiras verdes, moldura de espelhos amarelas e por aí vai) e uma noite fui jantar com minha filha de dez anos. Sentamos numa mesa colocada literalmente na rua, entre dois carros estacionados, comemos a maior lagosta do mundo e assistimos ao verdadeiro show que é ver a turma passeando pelas calçadas! E realmente passou de tudo, até um cara de patins com uma cacatua branca no ombro!

É claro que ainda existem por lá os marginais, os ilegais, os traficantes e os mendigos catando lixo como em qualquer grande cidade, mas em menor quantidade e mais distantes dos pontos badalados. Na sua próxima ida à Flórida, em vez de ficar mais uma vez em Downtown ou lá para cima no Bal Harbour e adjacências, hospede-se em South Beach e faça parte da animada festa que só termina quando você vai embora!

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Hotéis (caros) que eu recomendo:

The Tides – 1220 Ocean Drive – 800 439-4095
Maravilhoso, 5 estrelas, moderníssimo, de frente para o mar, apelidado de “A Diva da Ocean Drive”. Diárias a partir de USD 350.00 + taxas. Lotado de celebridades.

Setai
– 2001 Collins Avenue – 305 520-3000
Oriental, luxuoso, minimalista, instalado em dois prédios: um Art Decô e outro moderníssimo, ambos espetaculares. Diárias a partir de USD 520.00 em “Summer Specials”.

Hotéis (mais baratos) que eu também recomendo:

Cavalier – 1320 Ocean Drive – 305 531-3555
Prédio autêntico Art Decô, decoração mirabolante, quartos bem confortáveis, um ótimo bar no lobby, diárias a partir de USD 199.00 + taxas. Bom preço, não?

Cardozo – 1300 Ocean Drive – 305 535-6500
Ao lado do Cavalier, com um toque bem cubano por ser da Gloria Estefan e por ter música latina ao vivo todas as noites no bar da varanda. É a maior festa! Diárias de USD 230,00 em diante.

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Um pouco de cultura em meio à badalação:

Logo que você chegar dê uma passada no Art Deco Welcome Center, na Ocean Drive 1001, esquina da 10th Street, e pegue um livreto que mostra os principais prédios tombados, com muitas informações sobre os arquitetos e detalhes especiais. Há uma série de trajetos de uma hora e meia que você pode fazer a pé com um guia local acompanhando o grupo. É bem divertido e instrutivo.

Se você gosta de arte, o Bass Museum of Art fica ali perto, na Park Avenue 2121. Para saber sobre as exposições, ligue para 305 673-7530.

O Wolfsonian-FIU, museu dedicado ao design e sua influência na nossa vida, funciona num galpão restaurado de 1927 e é interessantíssimo. Peças de mobiliário, objetos de decoração, pinturas e desenhos arquitetônicos. 1001 Washington Avenue – 305 531-1001.

O Miami City Ballet está sempre apresentando seu repertório mais clássico e também grupos novos de dança moderna. Liberty Avenue 2200. Telefone: 305-673-7530.

O Jackie Gleason Theatre for the Performing Arts, na Washington Avenue 1700, oferece uma variedade enorme de shows: remontagens da Broadway, American Ballet Theatre, óperas e apresentações de cantores populares. Informações: 305 673-7300

O Colony Theatre, na Lincoln Road 1040, é um exemplo perfeito de arquitetura Art Decô, e tem uma programação que inclui teatro, dança, música, comédia e filme.
305 674-1026

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Um pouco de badalação:

Os clubes noturnos, boates e lounges de South Beach são os mais variados possíveis para atender à misturada de raças, línguas, ritmos e sexos:

Jazid – 1342 Washington Avenue – 305 673-9372
Dois andares, música ao vivo no térreo e DJ's no segundo andar, muito reggae e ritmos latinos.


Level
– 1235 Washington Avenue – 305 532-1525
Uma lenda na vida noturna de Miami desde que foi criado pelo cantor Prince em 1990. Imenso, sempre cheio, a melhor música da cidade.

Mac’s Club Deuce – 222 14th Street – 305 531-6200
O favorito do Colin Farrell e de toda a animada fauna local. Bom para ver as celebridades e se divertir. Mas atenção: não aceitam cartão de crédito.

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Para comer bem:

Prime 112 – 112 Ocean Drive & 1st Street – 305 532-8112
Especializado em carnes, bem caro, vive lotado e sem reserva você não entra. O prato mais pedido é o famoso bife envelhecido acompanhado de muitas saladas. Os peixes grelhados também são ótimos. Celebridades a dar com o pé! Leve seu livrinho de autógrafos.

News Café – 800 Ocean Drive & 8th Street – 305 538-639
O favorito do Gianni Versace que morava quase ao lado na Casa Casuarina, que hoje é um hotel & clube particular. Este é o café mais badalado da praia, e vale a pena esperar por uma mesa seja no café, almoço, jantar ou a qualquer hora do dia. Enquanto você espera o desfile na calçada vai compensar... Fica aberto 24 horas, bom e barato. Tem uma loja ótima lá dentro.

Puerto Sagua – 700 Collins Avenue & 7th Street – 305 673-1115
A mais antiga lanchonete cubana de Miami oferecendo mil pratos bem fartos e baratíssimos, alguns custando menos de 5 dólares! Perfeita para levar a família toda. O arroz de frango (quase uma paella), os croquetes de presunto e as costeletas de porco são deliciosos.

Jerry’s Famous Deli – 1450 Collins Avenue – 305 532-8030
Construído em 1946 no mais puro estilo Art Decô, este “diner” é o preferido dos locais e de turistas curiosos, com comida acima da média para esse tipo de restaurante. Fica aberto até tarde e tem mesas ao ar livre além de um bem sortido bar. Bem barato.

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E as compras?

Por toda a Ocean Drive e nas ruas tranversais existem lojas e butiques de todos os tipos, da GAP e Banana Republic a Cartier e Versace.

Na Lincoln Road Mall, que é uma larga rua de pedestres arborizada começando na 16th Street & Collins Avenue, há muitas outras lojas, galerias de arte, farmácias, perfumarias, lanchonetes e restaurantes. O melhor deles é o Van Dyke Café, que além da ótima comida tem música ao vivo à noite.

E depois das compras dê uma passada na praia e veja as garotas "topless" ou, se você preferir, os rapazes com as menores sungas do mundo...

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A MÁGICA DA DISNEY... E DA TIA ELIANE!

Como guia de excursões eu devo ter acompanhado ao longo de muitos anos mais de mil pessoas para Orlando, tantos eram os grupos das agências de turismo que me contratavam, como a Stella Barros, Brazillian Promotion Center, Travel Service, Bancor e outras que nem me lembro mais o nome. No fundo todas as excursões para a Disney são iguais: incluem passagem, traslados, acompanhamento de guias, hospedagem, tickets para todos os parques, dias livres para compras e muita alegria. O que diferencia uma da outra é o número de noites, a categoria dos hotéis ou os opcionais para Nova York ou Bahamas. E como eu adoro a mágica de Orlando, eu trabalhava como guia e me divertia muito ao mesmo tempo!

Até que um dia eu conheci a Tia Eliane!

Loura e exuberante, muito falante, óculos enormes, me viu de camiseta de guia sentado sozinho na lanchonete bem refrigerada do Parrot Jungle, um abafado parque em Miami cheio de araras e cacatuas, visita obrigatória nas excursões para a Flórida nos anos 80, e veio puxar conversa. Eu estava com um grupo do Rio e ela com centenas de passageiros, para variar. Em cinco minutos estávamos às gargalhadas e não deu outra: meses depois eu era o novo guia da sua agência de Belo Horizonte, um carioca da gema no meio de um trem de mineiros simpáticos demais da conta! E a partir daí foram anos seguidos de viagens em janeiro e julho, e de uma forte amizade que dura até hoje.

Nenhuma agência com quem eu trabalhei na vida chegou perto do alto nível das excursões dela. Do começo ao fim as viagens eram perfeitas e deliciosas, visando a mais pura diversão, sem correrias nem stress de horários e muito menos de “wake-up calls” às 8 da manhã! Os hotéis eram os melhores de Miami e Orlando, sempre 5 estrelas. E os grupos eram imensos! Lembro-me do maior deles, quase 360 passageiros divididos entre um avião da Varig e outro da Pan American, com vários guias e supervisores, 9 ônibus nos esperando nos aeroportos, hotéis e parques, enfim, uma verdadeira operação de guerra meticulosamente planejada com bastante eficiência para dar tudo certo. E não se perdeu uma mala!

Além dos parques e shoppings, Tia Eliane sempre descobria alguma coisa extra para oferecer aos passageiros. Uma vez vimos um show do Frank Sinatra na Orlando Arena, inesquecível. Era só ela dar a idéia e a turma toda topava.

Uma das coisas mais chatas em qualquer viagem é chegar cedo ao hotel e só ter seu quarto liberado depois das 3 da tarde. Para evitar esse incômodo, ela bolou uma chegada perfeita a Orlando depois dos 3 dias que passsávamos em Miami no início da viagem para fazer compras. Chegando à Disney os ônibus deixavam a garotada ávida por diversão no Magic Kingdom e depois iam para o hotel descarregar as bagagens com guias supervisionando a sua distribuição. No final da tarde o grupo cansado de tanto andar nos brinquedos e nas montanhas-russas voltava do parque direto para um grande salão do hotel onde drinques e salgadinhos os esperavam para a entrega das chaves. E de repente abria-se uma porta e aparecia o Mickey Mouse em pessoa para dar as boas vindas à turma que, encantada, não parava de tirar fotos, com os flashes espocando sem parar! Depois dessa função todos subiam para os quartos em estado de graça e já encontravam suas malas lá dentro além de uma cesta de frutas com um cartão da agência. Bacana, não?

Eu estava uma vez tomando conta da chegada das malas antes do povo voltar quando uma imensa Samsonite caiu do caminhão fazendo um barulhão de louças e talheres se espatifando bem na entrada do Hotel Contemporary! Eu e o carregador levamos um susto danado e ficamos preocupados. Fui correndo falar com a Tia Eliane que na mesma hora deu uma sonora gargalhada e me tranqüilizou: “Luiz, essa é a mala da cozinha, e é tudo de metal, não quebrou nada”! Mala da cozinha? O que? Dentro do melhor hotel da Disney? Pois é, ela me explicou, a dona dessa mala vem todo ano com os netos e apesar de adorar Orlando, detesta a comida americana, daí trazer fogareiro elétrico, panelas, cumbucas, temperos e vários mantimentos para cozinhar no banheiro do hotel! O neto desativa o detector de fumaça do teto e ela faz arroz de carreteiro, farofa, rosbife, carne assada, tudo na maior calma! E logo no dia seguinte a senhora me chamou discretamente num canto e lá fui eu comer um feijão tropeiro maravilhoso...

Certa vez com ela e alguns do grupo fiz um dos melhores programas para quem curte bastante os parques do Walt Disney World: conhecer os bastidores das atrações todas, vendo de perto como é o outro lado da mágica! É a “Backstage Magic Tour” que leva você para visitar o Magic Kingdom por baixo e por trás, descobrindo muitos dos segredos que ajudam a fazer funcionar aquela maravilha toda.

Depois de ouvir uma rápida palestra sobre o sonho do Walt Disney de construir um parque para crianças onde adultos também pudessem se divertir, partimos rumo ao desconhecido a bordo de uma bem refrigerada van. Saltamos num local ermo, entramos numa espécie de galpão e de repente estávamos dentro do Piratas do Caribe, por trás dos bonecos mecânicos que cantavam e se mexiam sem parar! Muito estranho e escuro, nós víamos através de frestas no cenário as pessoas nos barcos se divertindo sem desconfiar que vinte xeretas as espiavam! Numa sala separada, vários "imagineiros" (imaginação + engenheiros)consertavam e faziam manutenção em dois enormes piratas desmontados e pelados! Muito esquisito ver os bonecos sem cabeça com mil fios e roldanas saindo da barriga aberta!

Em seguida subimos uma escada e nos vimos dentro de uma sorveteria da Main Street, mais uns passos depois e o Peter Pan estava voando sobre nossas cabeças! Andamos para a direita e saímos direto no Castelo da Cinderela, impressionados com a perspectiva forçada dos cenários e dos prédios que sempre pareciam maiores do que realmente eram. E por aí fomos entrando e saindo de atrações e lojas cada vez mais encantados com os efeitos técnicos de iluminação e de mecânica, sempre por baixo e sem que nenhum visitante percebesse.

Descemos uma longa escada e chegamos ao subsolo do parque, imenso, com verdadeiras avenidas coloridas por onde circulavam caminhões e carros cheios de bonecos, mercadorias e sorvetes que eram entregues nas lojas acima através de pequenos elevadores. E havia o maior tráfico subterrâneo, com mão e contramão, sinais e guardas controlando o fluxo! Se você prestar a atenção, ninguém que está nos parques vê a mercadoria entrar nas lojas, pois é tudo feito por baixo.

Alguns carros elétricos levavam fantasias do Mickey e de outros personagens para a tinturaria, a maior do mundo! Lá ficamos sabendo que cada empregado, seja ele atendente de loja, personagem, bilheteiro ou artista de show tem sempre 3 roupas: uma em uso, outra lavando e mais uma pronta de reserva. Ficamos boquiabertos com as fantasias de Mickey, Pateta, Pluto e Donald penduradas em correias suspensas navegando pelo teto até chegar a seu destino, que poderia ser a alfaiataria para serem consertadas, para os camarins onde os atores iam vesti-las ou para um grande depósito aguardar a hora de ser usada. Muitas costureiras faziam bainhas, rebordavam roupas ou pregavam botões.

Vimos várias salas de ensaio onde homens e mulheres treinavam os movimentos dos diversos personagens que iam representar ou ensaiavam as coreografias dos shows e dos desfiles. Nos muitos camarins as moças eram maquiadas e penteadas para ficarem iguais à Alice ou à Branca de Neve. Você sabia que as fantasias de todos os personagens pequenos, como o Mickey, a Minnie e o Donald são sempre usadas por mulheres e os grandes como o Pateta, Pluto e João Grandão por homens? E já reparou que nenhum deles fala, para não quebrar o encanto? Cada "character" tem seus movimentos próprios muito bem ensaiados de acordo com uma ficha técnica, e nenhum dos atores trabalha mais de 3 horas por dia, para não morrer de calor debaixo daquelas roupas grossas e peludas!

Depois visitamos o enorme jardim botânico com milhares de mudas de plantas e flores de todas as espécies em várias etapas de crescimento para serem trocadas quase que diariamente nos canteiros dos parques, e vimos os jardineiros aparando as topiárias, que são aquêles arbustos esculpidos em formato de bichos. E terminamos a visita na usina quase nuclear que fornece a energia elétrica de todos os parques, produzindo mais quilowats do que muita cidade no mundo. Já imaginou o tamanho da conta da luz se não houvesse essa usina?

Antes de voltar ao hotel passamos por uma turma que já preparava as várias barcaças com os fogos de artifício que todas as noites pipocam no céu, e por uma grande equipe dando os últimos ajustes nos carros alegóricos da parada das 3 da tarde, com os rapazes e moças já fantasiados prontos para entrar em cena. Se você curte muito a Disney, faça uma visita dessas pois vale a pena! Agora há várias opções, entre elas uma de dia inteiro passeando pelos bastidores do Magic Kingdom, Epcot Center e Disney & MGM Studios, que deve ser sensacional.

E a Tia Eliane?

Continua igualzinha, levando centenas de pessoas para Orlando várias vezes ao ano através da sua Tia Eliane Tours e continua me chamando para voltar a ser guia depois de tantos anos! Pode?
Proporcionando ainda mais alegria aos passageiros, as suas excursões de um tempo para cá tem atrações extras, como cantores famosos ou jovens galãs de novelas que viajam com o grupo, tornando a viagem inesquecível! Olha só ela grudada no Cauã Reymond que foi com o grupo recentemente...

Depois de alguns anos só nos comunicando por telefone ou email, agora temos nos visto muito em Nova York quando eu estou de férias com a família e ela está acompanhando as viagens opcionais depois de Orlando. Mas sempre dá um jeitinho de escapulir e jantar conosco, o que é ótimo para matar as saudades e morrer de rir ao lembrar das coisas malucas e engraçadas que aconteciam nessas viagens. Bons tempos aqueles...