sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

ENTRE TEMPLOS E VEADOS EM NARA

De todas as cidades cidades que eu visitei no Japão, Nara foi a que achei mais simpática e tranqüila, com lindos parques, templos maravilhosos e um povo alegre e calmo, ao contrário dos habitantes de Tóquio e Quioto, muito mais apressados e estressados...

Em plena planície de Yamato, na região de Honshu, ela foi fundada em 710 e durante 74 anos foi a primeira e mais bonita capital do Japão, onde o Budismo floresceu e acabou deixando de herança muitos templos espalhados por seus parques e colinas.

A primeira coisa a visitar é o Parque Nara, uma imensa área verde com muitos templos e milhares de veados soltos por seus gramados e florestas: eles são considerados “mensageiros dos deuses” e fazem o que querem lá dentro! Logo na entrada você já compra uns saquinhos dos biscoitos que eles adoram e nem precisa oferecer: os veadinhos e até uns veadões sem-vergonha começam a cercar você e a dar leves marradas para ganhar os biscoitos.

De brincadeira escondíamos os saquinhos dentro dos bolsos das jaquetas e calças e os folgados enfiavam os focinhos molhados e levavam o saco todo! E por onde você fosse a manada ia atrás, querendo cada vez mais comida. A sorte é que há barraquinhas de vender biscoito espalhadas por todo o parque, e haja dinheiro.
Mas a farra é grande e vale a pena.

Até que nós provamos e adoramos o tal biscoitinho, que parece desses fininhos de arroz com gergelim, e passamos nós a comê-los! Quando os bichos perceberam que nós estávamos comendo os biscoitos, ficaram furiosos e as chifradas começaram a ficar mais fortes, nos obrigando a entrar num dos templos para escapar da sua fúria assassina!

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Lá no parque fica o Nara National Museum, cheio de esculturas, pinturas e objetos budistas e rolos e rolos de caligrafias do tempo da fundação da cidade. Ao seu lado, no meio de um denso bosque, fica o Grande Templo Kasuga, que é o templo xintoísta mais fotografado do mundo. Construído em 710, de acordo com a crença xintoísta de renovação para a pureza, ele é demolido e reconstruído a cada 20 anos! Pelas contas deles isso já aconteceu mais de 50 vezes, mas o templo atual data de 1863.

À sua volta mais de 3 mil lanternas de pedra e ferro doadas pelos fiéis enfeitam os caminhos e ruelas. Em fevereiro e em agosto elas ficam acesas o tempo todo durante os festivais religiosos.

O templo budista mais famoso do parque é o Todai-ji, com um imenso telhado arrematado por dois chifres dourados. São vários prédios grandiosos unidos por passagens cobertas, cada um mais bonito que o outro.

Mas você fica de boca aberta quando entra no Daibutsuden, o salão onde fica o Grande Buda de 16 metros de altura que pesa mais de 700 toneladas! Terremotos e incêndios arrancaram a sua cabeça em várias ocasiões, mas que está lá foi colocada em 1692.

Ao visitar o templo, tente passar por um orifício razoavelmente pequeno, do tamanho de uma das narinas do Buda, furado numa das colunas de madeira atrás da estátua: quem consegue passar, diz a lenda, tem seu lugar garantido no Nirvana... Eu, que era magrinho, passei...

Fora do parque há mais um templo que não pode deixar de ser visitado: é o Toshodai-ji, um santuário fundado em 759 pelo sábio Ganjin cujos prédios originais que ainda estão de pé são considerados Tesouro Nacional. Veja também a espetacular estátua de quase seis metros de altura de Senju Kannon, a divindade misericordiosa dos mil braços que protege e vela por todos.

Munido de um mapa turístico da cidade você pode se aventurar pelo bairro Naramachi, o mais antigo de todos com grandes galpões de mercadores construídos no século 18 que foram transformados em lojas de artesanato e galerias de arte. Lá a maioria das casas têm fachadas bem estreitas mas são grandes para trás: isso porque o imposto a ser pago era baseado só na medida da frente e não na metragem quadrada total do imóvel! Aproveite para comprar objetos lindos de palha, madeira e bambu, das poucas coisas baratas no Japão.

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O melhor hotel da cidade é o Nara Hotel, construído em 1909 em estilo ocidental mas com muitos detalhes orientais. Fica numa colina cercado de pequenos lagos e tem quartos enormes, dois restaurantes e um excelente bar. Diárias baratas para o padrão japonês a partir de US 260.00. Tem ainda um ótimo spa.

Mas se você quiser experimentar a hospedagem típica japonesa, que eu recomendo sem restrições, tem que dormir pelo menos por uma noite num "Ryokan", que são hospedarias simples mas muito confortáveis oferecendo hospedagem, refeições, banhos e massagens por pouco mais que USD 35.00 por pessoa. Você não vai se arrepender. Eu fiquei em Nara no Kikusuiro, perfeito em todos os sentidos.

O DESCANSO DO SAMURAI

Depois de andar quilômetros vendo templos, veados, estátuas de Buda e outras divindades, nada melhor do que relaxar e ser paparicado como um verdadeiro samurai que chega de volta vencedor. Ao chegar ao "Ryokan", depois de deixar os sapatos do lado de fora, você recebe uma bandeja com pantufas, uma toalha, um “yukata” (quimono de algodão) e um “obi” (faixa) para amarrar. Mas atenção ao fechar o quimono: passar sempre a parte esquerda por cima da direita – o jeito contrário só é usado para vestir os mortos!

O “tokonoma” (quarto), sempre com nome de plantas ou flores na porta em vez de números – o meu era “cipreste” – tem piso de tatame, que são aquelas esteiras duras de palha usadas nas quadras de judô, um armário e painéis de papel de arroz fechando a janela. De um lado há uma mesa baixinha com chá verde fumegando e do outro dois futons (almofadões) no chão. O banheiro tem chuveiro, banheira e um vaso sanitário daqueles moderníssimos, com assento que esquenta e chuveirinho de bidê.

Já de quimono você vai para o “o-furo”, o banho comunitário. Mas pode tirar o cavalinho da chuva, pois é homem para um lado e mulher para o outro. E cuidado para não entrar no banho errado! Como não dá mesmo para entender os caracteres japoneses, peça para alguém mostrar o de homens e evitar a maior gritaria.

Antes de entrar na grande banheira-piscina você fica pelado e, sentado num banquinho, é esfregado de cima abaixo com uma esponja por um japinha enrugado com cara de mais de cem anos que joga baldes de água quente e usa um sabonete perfumado de eucalipto.

Limpinho e vermelho de tanta esfregação você entra na banheira bem devagar, pois a água é quentíssima e queima mesmo, não sem antes saudar a turma de japoneses que já está na água falando e rindo muito. O riso só acaba se você tiver o corpo peludo e for um pouco mais dotado... Aí o silêncio é mortal...

Depois de alguns momentos o calor e a névoa envolvem corpo e mente provocando um relaxamento total!Nada pode ser mais zen! Não dá nem vontade de sair mais dali. Mas um rápido mergulho, desta vez em outra piscininha de água muito fria ao ar livre faz você voltar imediatamente ao mundo dos vivos!

Para prolongar ainda mais o seu bem-estar há massagistas de plantão 24 horas à disposição para fazer o melhor shiatsu do mundo! É claro que isso é cobrado à parte, mas não é caro e você não vai se arrepender.

Se você não quiser ir ao restaurante, o jantar pode ser servido no quarto, enquanto o futon é forrado com lençóis e um “mofu” (cobertor) se estiver frio. Para completar, uma garrafinha de saquê ajuda a encerrar a noite em paz e com bons sonhos...

E no dia seguinte você acorda lépido e novo em folha, pronto para mais andanças e descobertas...


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Um ótimo restaurante:

HARISHIN (15 Nakashinya-cho)- Próximo ao templo Gangozi, funcionando numa imensa casa de madeira de mais de 200 anos, com muitas mesinhas no tatame e uma linda vista para os jardins. Por pouco mais de US 45,00 você se delicia com um farto "bento", que é aquela caixa laqueada com várias divisões contendo um pouco de tudo: tofu com gergelin, sopa, arroz, vegetais no vapor, e tempura de camarão, frango e vieiras. E ainda toma um saquê.

E na saída pegue um coração da sorte para saber o que vai acontecer na sua vida!

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