sábado, 23 de fevereiro de 2008

AMÉRICA DO NORTE DE PONTA À PONTA!

No início dos anos 70 eu fui levado por uma amiga para conhecer a famosa D. Stella Barros, dona de uma das maiores agências de turismo da época e que estava sempre precisando de guias para acompanhar suas muitas excursões. Conversamos um pouco e logo vi que ficaríamos amigos, apesar da grande diferença de idade. E ficamos, pois ela era animadíssima e adorava viajar também. E o resultado foi que durante alguns anos levei vários grupos da agência dela e por várias vêzes nos encontramos pelo mundo afora, eu como guia e ela aproveitando as suas férias!

Como eu era fotógrafo e modelo free-lancer, podendo adiar alguns compromissos, dois dias depois do nosso papo eu já estava embarcando num avião da Pan Am com 45 brasileiros numa excursão que depois eu acompanhei mais três vezes nos anos seguintes. Chamava-se “América do Norte de Ponta a Ponta” e visitava as principais cidades do México, Estados Unidos e Canadá em exatos 45 dias! Era um senta-e-levanta danado, voávamos pelo menos umas 10 vezes, viajávamos também de ônibus, mas as novidades eram muitas e a turma adorava. E você conhecia o melhor de cada lugar.

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A maratona começava na Cidade do México – visitávamos em 3 dias o Museu de Antropologia, os jardins flutuantes de Xochimilco, as Pirâmides do Sol e da Lua e passeávamos muito pela Zona Rosa. De lá íamos de ônibus almoçar em Cuernavaca e chegávamos ao final da tarde para dormir em Taxco, a cidade das minas de prata. Lá a programação incluía a Igreja de Santa Prisca, maravilhosa, e à noite o show dos índios voadores, uns nativos malucos que amarravam cordas nos pés e saltavam de um poste com mais de 15 metros de altura, tipo um “bungee-jump” de pobre, e alguns batiam com a cabeça no chão de pedra! E não sei também como não quebravam os tornozelos, pois as cordas não eram elásticas e o tranco era bem forte...

O hotel era a Posada de la Misión, uma “hacienda” antiga com quartos aconchegantes com vigas de madeiras nos tetos e lareiras sempre acesas. Como a cidade é tombada pelo Patrimônio Histórico e carros não entram, nossas malas eram transportadas nos lombos de burricos que adoravam beber cerveja! Você dava umas moedas para os garotos e eles metiam uma garrafinha de Sol entre os dentes dos bichos que bebiam até a última gota, relinchando de felicidade. Nos jardins os enormes iguanas com as bocas costuradas – para não morder – eram as atrações das nossas fotos!

No dia seguinte estávamos em Acapulco, o famoso balneário freqüentado pelos astros de Hollywood. Nós alugavamos jipes conversíveis e era o dia inteiro pra lá e pra cá, conhecendo todas as praias e fazendo muito “parasail”. O hotel era o espetacular Acapulco Princess. Três dias depois de muita praia e muitas margaritas voávamos para Los Angeles. Na hora de ir para o aeroporto eu tinha que pegar uns desgarrados que ainda estavam enchendo a cara na praia e que embarcavam de calção, camiseta e sandália, bem doidões e sujos de areia!

Passeios por Hollywood, Beverly Hills, Marineland of the Pacific (o Seaworld da época) e uma ida à Disneylândia em Anaheim e ao Hollywood Wax Museum nos mantiam bem ocupados nos 4 dias passados em L.A.

Aí chegava a vez de Las Vegas, com o tal avião da “Champagne Airlines” que sacolejava o tempo todo. O hotel era o Flamingo – o mais conhecido da cidade, antes dos hotéis temáticos de agora – e os shows eram com Harry Belafonte, The Carpenters, Tony Bennet, Jack Jones e, acredite se quiser: Liberace!

Mais um vôo rápido e estávamos em San Francisco! Muitos passeios de “cable-cars”, idas a Chinatown, Fisherman’s Wharf, Sausalito, Carmel e Monterey, além de comer muitos “king crabs” e peixes maravilhosos. O hotel era o Hilton, como em todas as outras cidades dos USA da excursão. Nessa época tinha acabado de inaugurar uma lojinha simpática e barata onde compramos muitas camisetas, bermudas e jeans. Chamava-se GAP! Já ouviu falar?

Um longo vôo no primeiro Jumbo 747 da Pan American que eu viajei na vida e chegamos a Chicago, ficando no Conrad Hilton de frente para o lago Michigan que mais parece um mar de tão grande. O grupo ficou muito impressionado porque a maioria dos empregados do hotel e da população era negra. Apesar de educados e simpáticos, chamavam muita atenção pelas roupas extravagantes, pois era o final dos anos do “flower-power”, hippies, cores e drogas psicodélicas, cabelos “black power” e música do Marvin Gaye tocando o dia todo. Passeamos muito, visitamos o sensacional Museu da Ciência e Indústria, mas a turma ficou aliviada quando embarcamos para Buffalo, na fronteira com o Canadá.

Niagara Falls é “o” ponto turístico por excelência, pois tudo foi construído em função e em volta da linda cachoeira para que os visitantes possam vê-la de todos os ângulos possíveis. Você pode passar de barco quase debaixo dela em meio à maior neblina de água, pode descer por elevadores cavados na rocha até a sua base e quase ficar surdo com o barulho ensurdecedor - e mesmo usando fedorentas capas de plástico amarelo e enormes botas de borracha o banho é total! Você sai um pinto! Pode ainda vê-la de vários pontos das suas margens, passar na frente dela de bondinho aéreo ou subir numa das muitas torres com deques giratórios de dia ou de noite. E é só o que a cidade tem, além de passeios pelos parques floridos, diversos restaurantes, e um monte de suvenires para comprar. Mas era uma parada perfeita para descansar bem no meio do extenso itinerário.

De lá nós pegávamos um moderno ônibus canadense e visitávamos Niagara on the Lake, uma graça de cidade antiga, e seguíamos para três dias em Toronto, outros três em Ottawa, dois em Quebec e mais três em Montreal! Todos do grupo sempre ficavam impressionados com as paisagens e a limpeza das cidades, os prédios históricos, museus e parques, além dos excelentes hotéis e o comércio bem barato por conta da desvalorização do dólar canadense. E de ônibus nós voltávamos a entrar nos Estados Unidos passando por Saratoga – uma pequena cidade famosa pelos haras e corridas de cavalos, e chegávamos em grande estilo ao Hilton de Nova York!

Aí era uma festa: museus, Broadway, muitas compras, passeios que sempre incluíam uma subida ao terraço do extinto World Trade Center e até um cruzeiro à volta da ilha de Manhattan que ia até a Estátua da Liberdade. Nessa época existiam na Rua 46 várias lojas chamadas “de brasileiros” que eram verdadeiras espeluncas atravancadas de prateleiras e caixas até o teto que vendiam exatamente tudo que a brasileirada queria: toalhas de mesa de plástico, batons, maquiagem e cremes da Revlon, baralhos de plástico KEM, calças Lee e Levi’s, sapatos Top Sider, talheres com cabo de bambu dourados, rádios portáteis, câmeras e muito mais.

O que a turma adorava era que os vendedores falavam português, sabiam os tamanhos das roupas e, o mais importante, não cobravam a famosa “plus tax”, desde que as compras fossem pagas em dinheiro vivo!
Mas cá entre nós, para mim o mais importante é que essas lojas davam 10% de comissão para os guias que levassem lá seus passageiros – perfeito para quem já estava no 30º dia de viagem e sem cartão de crédito, já que os primeiros cartões brasileiros com validade internacional só apareceram em 1992...

Pensa que a viagem acabou? Nada disso! Depois de mais um vôo estávamos em Washington D.C. visitando os monumentos e museus maravilhosos. De lá pegávamos o penúltimo vôo da excursão para a Terra do Mickey e chegávamos ao Walt Disney World, que tinha acabado de inaugurar em Orlando e era a grande novidade do momento! E como acontece até hoje os adultos viravam crianças no Magic Kingdom, que era o único parque aberto. O Epcot Center ainda estava só no papel. O hotel era o Hilton de Lake Buena Vista, excelente até hoje.

De ônibus chegávamos a Cypress Gardens e víamos um dos shows espetaculares de esqui aquático. Mais um pouco de estrada e Miami nos esperava para o término da viagem. O hotel era o imenso Fontainebleau, que os americanos chamam de "fountainblue", ótimo, mas meio fora de mão para a turma que só queria passear pela Flagler Street, cheia de lojas. Víamos os papagaios do Parrot Jungle, o palácio Vizcaya, e mais golfinhos e focas no pequeno e antiquado Seaquarium. E o pessoal corria para as últimas comprinhas que sempre incluíam mais uma mala – e como lá também havia as tais lojas de brasileiros, no último dia eu recebia os 10% que muitas vezes, dependendo do tamanho do grupo e da sanha consumista da turma, chegava a mais de mil dólares!

E eu pegava a minha grana e ia para o Bal Harbour, o shopping mais bonito da Flórida, para comprar roupas numa outra loja transadérrima e baratíssima que também acabara de abrir: a Banana Republic. Bons tempos aqueles...

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