Nada como trocar o calor abafado do Rio de Janeiro pela temperatura abaixo de zero de Nova York! Foi exatamente isso o que eu fiz durante o Carnaval, passando nove dias curtindo o frio, a neve, os museus, os shows, as compras e os restaurantes! Uma programação intensa, sem dúvida, mas sensacional!
Dois espetáculos únicos:
Eric Clapton e Jeff Beck ao vivo no Madison Square Garden lotado! Os dois mais famosos guitarristas do mundo mostraram que continuam firmes e fortes apesar do tempo que passou. Primeiro tocou o Jeff, depois o Eric e no final os dois juntos, levando a platéia ao delírio. Três horas de pura emoção que bem valeram os salgados preços dos ingressos. Uma apresentação inesquecível.
Kings of the Dance, no New York City Center, reunindo só homens, primeiros bailarinos de várias companhias de balé da Inglaterra, França, Russia e Estados Unidos. Fizeram só três apresentações pois é difícil reunir numa única cidade os talentosos rapazes que passam a vida dançando nos melhores teatros do mundo . Na frente da foto o brasileiro Marcelo Gomes, do American Ballet Theatre com o russo Denis Matvienko num "pas de deux" que fez a platéia vibrar.
Dois repetecos:
Assisti à nova montagem de Hair, que vi quando ainda era encenada Off-Broadway há mais de 30 anos! Apesar do rock-musical ter se tornado uma peça de época - e que época legal! - continua alegre, vibrante e engraçado. A maioria das canções, que eu sei de cor, ainda faz o público aplaudir em cena aberta. No final todos são convidados a subir ao palco e a dançar com o elenco, e essas cenas agora são filmadas e postadas no site do show. A platéia adora o final do primeiro ato quando todo o elenco fica pelado em cena, motivo de escândalo em 73 e de satisfação em 2010!
Vi o musical "A Little Night Music", só com valsas do Stephen Sondheim, com a deslumbrante Catherine Zeta-Jones e a incrível Angela Lansbury.
A peça é baseada no filme do Ingmar Bergman, "Sorrisos de uma noite de verão" e mostra as confusões extra-conjugais da nobreza sueca. Em 1973 eu assisti à montagem original com a atriz Glynis Johns, e era bacana ver o público sair do teatro entoando "Send in the clowns", canção que se tornou grande sucesso popular. Agora sai todo mundo de boca aberta diante da beleza da Zeta-Jones!
No B.B.King Blues Club, fui ao brunch com o show do famoso Gospel Choir, programa perfeito para esquentar uma gélida manhã de domingo. Dois bufês com comida "creole" para todos se empanturrarem de "gumbo" , "jambalaya" e outras delícias da gastronomia de New Orleans já eram suficientes para garantir a animação, mas o grupo de negros com suas vozes espetaculares cantando músicas religiosas e populares como "When the saints go marchin' in" arranca aplausos e gritos da pláteia sem parar. Hallellujah!
Uma apresentação rara no Birdland: a cantora Robin McKelle, que despontou na Europa, onde seu primeiro disco foi um dos mais vendidos de 2007. Influenciada pela leveza da Ella Fitzgerald e o sentimento da Sarah Vaughan, a moça tem talento de sobra. Do "scat" rápido às baladas, da música popular ao "ryhtm 'n' blues", passando por suas próprias composições, Robin deu um show de versatilidade.
No MoMA uma mostra imperdível: Tim Burton e suas criações para o cinema. Você vê de perto desde a roupa do Edward Scissorhands ao macacão da Mulher-Gato do Batman, expostas ao lado de mil modelos e desenhos de personagens estranhos criados pela imaginação do genial cineasta. Mas atenção, pois para ver a exposição você tem que respeitar o horário marcado automaticamente na hora da compra da entrada geral do museu. E não pode furar fila!
No quinto andar uma exposição bastante diferente com as obras de Gabriel Orozco, o artista mexicano considerado um dos mais importantes do momento. Cranios desenhados a lápis, várias esculturas elaboradas a partir de objetos comuns, e uma inacreditável ossada de baleia pendurada do teto. Mas o que deixa todo mundo boquiaberto é uma simples caixa de sapato aberta e vazia jogada logo na entrada, que você pensar ter sido esquecida - nada disso! É uma obra de arte!
Na Asia Society está acontecendo uma importante mostra de artes do antigo Vietnam, com belíssimos exemplos de esculturas e objetos que nunca foram vistos na América antes.
As peças fazem parte dos acervos de dez museus vietnamitas e ao percorrer o museu você viaja do primeiro milênio Antes de Cristo ao século 17.
Estão expostas ainda cerâmicas que estavam num navio naufragado no século 15 que só foi descobrto por mergulhadores em 1990.
No Onassis Cultural Center na Olympic Tower, que eu não conhecia, uma pequena exposição gratuita muito interessante: as origens dos ícones de El Greco. São muitas obras de vários pintores de ícones sagrados de Creta dos séculos 14 e 15 expostos ao lado de seis pinturas de Domenikos Theotokopoulus, o grego, lindas. Entre elas a Coroação da Virgem, a mais bonita de todas.
No pequeno mas perfeito Jewish Museum acontece a exposição "Alias Man Ray, The Art of Reinvention" que vai até dia 14 de março exibindo não só as famosas e bem conhecidas fotografias em preto e branco mas também quadros, esculturas, filmes e poesias do vanguardista Man Ray.
Novidades gastronômicas:
No imenso Time Warner Building, no Columbus Circle, dois novos restaurantes:
Porter House, no quarto andar, oferecendo carnes da melhor qualidade, além de muitas saladas, peixes e frutos do mar grelhados. O crab cake (bolinho de caranguejo) é dos melhores que já comi, e a tradicional sopa "clam chowder" tem uma versão apimentada com tomate muito boa. Ótima carta de vinhos, preço bom e vista linda do Central Park.
De entrada comi "Cassoncini", pequenos pastéis recheados de ricota e espinafre, bem leves, seguidos do espaguete Chitarra, com pedaços de caranguejo. No bar, enquanto sua mesa é preparada, a brasileira Maia serve ótimos Cosmopolitans.
Ainda no Columbus Circle, no topo do Museum of Arts & Design, acabou de abrir o Robert, também com vista espetacular de suas vidraças do chão ao teto. Eu não cheguei comer lá, mas a crítica especializada diz que por enquanto a vista é bem melhor que a comida. Espero que na próxima ida à Nova York ele já esteja no ponto certo.
Do outro lado do Central Park também já está funcionando no museu Guggenheim o pequeno restaurante The Wright, com decoração moderníssima seguindo as curvas do prédio. Com esse a crítica foi mais amena, mas eu prefiro esperar para ver.
O Bread, no Soho, pequeno e moderninho, é uma ótima opção para uma refeição boa e barata. Saladas, sanduíches, sopas e outras comidinhas fazem do lugar um ponto obrigatório da garotada local, principalmente depois que apareceu numa série de TV. Fica no 20 da Spring Street.
Os restaurantes de sempre:
La Bonne Soupe, agora todo novo depois do incêndio do ano passado. A "soupe a l'oignon" e a "brandade" de bacalhau continuam gostosas. Bom e barato.
Le Benoit, onde dessa vez comi "skate wing" à milanesa - asa de arraia, pode? Pois é uma delícia!
Milos, o grego favorito das celebridades, com seus peixes inteiros grelhados e crab cakes deliciosos.
Bice, sempre animado e cheio de brasileiros. Comida e serviço de primeira.
Dovetail, em frente ao Museu de História Natural, chique, discreto e caro, já falei dele aqui. Continua excelente.
Imperdível é o brunch aos domingos no Pastis, no Meatpacking District. Muita gente bonita, fila na porta, reserva obrigatória, garçons malabaristas, comida francesa gostosíssima e um badalo sem fim. Parece que você está em Paris.
E depois nada melhor que fazer a digestão passeando pela High Line, o tal viaduto que em vez de ser demolido foi transformado em parque suspenso. Só mesmo em Nova York...
Se você é chocólatra inverterado, faça uma pausa nas compras no Saks Fifth Avenue e vá até o quinto andar se deliciar no Charbonnel et Walker Chocolate Café, da tradicional empresa inglesa que faz chocolates desde 1875. Chocolate quente, musses, tortas, doces, bombons, trufas, enfim, tudo o que você puder imaginar. Cheio de pingentes de cristal coloridos, o balcão tem uma esteira rolante por onde passam os doces na sua frente e num canto uma fonte que jorra chocolate!
De volta ao passado
Este boteco que fica na esquina da rua 55 com 6ª Avenida é o Astro, onde eu vou há trinta anos quando dá muita vontade de comer o típico breakfast americano: ovos mexidos com bacon, hashed brown potatoes, linguiçinhas fritas e tudo o mais que o colesterol adora! O serviço é rápido, os garçons simpáticos, a comida honesta (tem café, almoço e jantar) e os preços baratíssimos. E no final você leva a notinha e paga no caixa, como antigamente, deixando sempre um troco na mesa. Parece que o tempo parou dentro do Astro, o que é sempre muito bom!
E as compras?
Nunca vi tanto brasileiro carregando sacolas pelas ruas de Nova York como nesses dias de fevereiro. Algumas eram da Diesel, mas maioria era da Century 21, que vende roupas com bons descontos, seguidas da Abercrombie & Fitch, a loja de camisetas e jeans sempre com fila na porta dobrando a esquina da rua 56 que é uma verdadeira boate: escuridão total e música aos berros! E garotões sem camisa ficam fazendo pose na entrada, mesmo no frio, para alegria das meninas!
O sucesso é tanto que a empresa já vai abrir outra loja parecida duas quadras abaixo, a Hollister, que também usa e abusa da sensualidade para vender roupas para jovens.
Uma loja engraçada: a francesa Longchamps, em pleno Soho, com projeto de design ecologicamente correto, iluminação natural, escadarias de formas sinuosas, tudo bolado pelo arquiteto inglês Thomas Heatherwick. E já que você foi até lá aproveite para comprar algum dos muitos artigos de couro de primeira qualidade como bolsas, malas, sacolas desdobráveis, chaveiros, pastas masculinas e agora uma coleção completa criada pela modelo Kate Moss.
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Uma boa dica: na saída do show do Eric Clapton no Madison Square Garden você bem pode imaginar a multidão aflita para pegar táxi com a temperatura abaixo de zero! Em vez de ficar na frente do estádio, andei até a Broadway e logo um carrão preto novinho parou na minha frente: era um dos muitos táxis de empresas particulares que cobram por percurso, 10 dólares até o hotel Blakely na rua 55, um pouco mais caro que a corrida comum, mas muito seguro e com um motorista falando inglês correto e bem educado.
Também numa tarde estava difícil conseguir um táxi no Soho e logo outro carro preto apareceu, cobrando 20 dólares até o hotel, mais barato que o táxi comum. E todos tem o mesmo registro com a foto do motorista igual aos táxis amarelos, dentro da maior legalidade. Os motoristas dão sempre o cartão e você pode ligar a qualquer hora do dia e da noite. As empresas são a Lincoln Town Car Service (516 343-6164) e a City Start Limousine (917 797-1496), que fazem também traslados do aeroporto e qualquer passeio pela cidade. Fiquei freguês!
Até a próxima...
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