sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CHICAGO, CHICAGO, THAT TODDLIN' TOWN!

Desde o meu tempo de garoto que eu queria conhecer Chicago só pela música que foi um dos maiores sucessos do Frank Sinatra no início dos anos 50. Por conta da letra da canção eu imaginava uma cidade sempre em ebulição, colorida, bem alegre e romântica ao mesmo tempo, tudo o que ela deveria ser mesmo naquela época.

Mas na primeira vez que eu fui lá 20 anos depois, para variar guiando um grupo de 40 turistas brasileiros, levei o maior susto! Eu e a turma pensamos que tínhamos pousado em algum país da África, pois só vimos negros no aeroporto, nas ruas, nos ônibus e até no nosso hotel, o ótimo Conrad Hilton bem de frente para o lago. A população branca era minoria! Nada contra, mas foi uma grande surpresa para todos.

E não eram negros como os que estávamos acostumados a ver no Brasil, calmos e mais simples. Eram negões de dois metros de altura com cabelo “black-power” vestidos com incríveis roupas coloridas, sapatos de salto alto e plataforma, cheios de correntes, pulseiras, relógios e enormes anéis de ouro, chapéus com penas, arrogantes e brigões!

As mulheres usavam eriçados penteados afros com pentes e fivelas de marfim enfiados neles, unhas bem compridas pintadas que nem arco-íris, brincos de argola tão grandes que poderia agüentar um papagaio, vestidões soltos multicoloridos, sapatões de salto altíssimo e jóias bem exageradas. Sem falar na maquiagem e nas pestanas postiças de um palmo! Ninguém conseguia tirar os olhos desses espécimes, que mais pareciam saídos de um show musical psicodélico do tipo "Hair". Eram os anos 70 a todo o vapor!

As senhoras do grupo ficaram apavoradas, pois se você olhasse muito os homens fechavam a cara e vinham tomar satisfação. Chamei o grupo num canto para distribuir as chaves dos quartos e tentei acalmá-los, pedindo para não ficarem olhando para aquela bizarrice toda. E a coisa deu certo, pois no dia seguinte ninguém ligou mais para as estranhas figuras e aproveitamos tudo de sensacional que cidade tinha a oferecer.

Chegando a Chicago você logo vai ficar impressionado com o tamanho do lago Michigan, que mais parece um oceano sem fim, com muitas ondas e centenas de barcos singrando as águas azuis. Várias praias, parques e jardins contornam os 46 quilômetros da costa, oferecendo mil atividades como natação, vôlei e outros jogos de praia, ciclismo, patinação, corrida, golfe e muito mais. No verão o Lincoln Park, o Jackson Park e o Grant Park (onde o Obama festejou sua vitória na recente eleição) ficam lotados, mas no inverno, com temperaturas bem abaixo de zero e o vento gelado que vem do Canadá, não se vê vivalma!

No Navy Pier, cheio de lojas e restaurantes, você pega um barco e faz um cruzeiro pelo lago, apreciando a famosa vista dos arranha-céus, entre eles o Wrigley Building, sede da firma do conhecido chiclete, o imenso John Hancock Center com um observatório no 94º andar, e o prédio da Sears com o seu Skydeck no 103º andar. Lá de cima podem-se ver várias cidades de Illinois e ainda outras dos estados vizinhos de Wisconsin, Michigan e Indiana!

Apesar da capital do estado de Illinois ser Springfield, é em Chicago que as coisas acontecem. Da elegância das lojas da Michigan Avenue ao Loop, como é chamado o centro financeiro, a cidade é um verdadeiro museu de arquitetura a céu aberto. Você sabia que Chicago é considerada o berço da construção moderna? Lá estão prédios fantásticos criados pelos maiores arquitetos do mundo, como Mies van der Rohe, Helmut Jahn, Frank Lloyd Wright e Louis Sullivan.

A melhor forma de conhecer esta metrópole é andando a pé, pois as ruas formam um grande xadrez cujo centro é o cruzamento da Madison com a State Streets, como canta o Sinatra. Ônibus e trens cortam a cidade de ponta a ponta e são impressionantes as pontes e viadutos em curva cruzando por cima das nossas cabeças com um volume de tráfego enorme. Daí o nome "loop", que significa arco.

Na beira do lago fica o espetacular John G. Shedd Aquarium & Oceanarium exibindo a maior coleção do mundo de mamíferos, répteis, anfíbios, invertebrados e peixes. Uma atração imperdível é o tanque de quase 3 milhões de litros cheio de tubarões. Não deixe de ver também o novo recife de coral e as baleias beluga, imensas. Depois de explorar os mares, entre no planetário Adler ao lado e explore o espaço sideral em grande estilo!

Se você gosta de múmias, túmulos egípcios, artesanato de índios americanos, esqueletos de dinossauros, vá ao Field Museum. Se o interesse é por história, visite o History Museum, a mais antiga instituição cultural da cidade. Se for ciência, a pedida é o Museum of Science & Industry, e para artes visuais visite o ótimo Art Institute of Chicago.

A diversidade cultural da cidade criou a necessidade de centros específicos para cada fatia da população: há museu mexicano, polonês, lituano, grego, sueco, judeu, vietnamita e afro-americano. A novidade agora é o Notebaert Nature Museum, um projeto arquitetônico ecologicamente correto e auto-suficiente em matéria de energia, com jardins de plantas nativas no telhado, e modernos sistemas de preservação de água e captação de energia solar. De alguns anos para cá Chicago tornou-se a cidade mais "verde" da América do Norte com essas inovadoras formas de construção.

Para curtir boa música e ótimos espetáculos artísticos, não deixe de assistir a alguma apresentação da Chicago Symphony Orchestra, da Lyric Opera ou do Hubbard Street Dance, famosos mundialmente, além de uma infinidade de shows, peças e eventos culturais.

Se esporte é o seu forte, essa é a sua cidade. Lá estão os times de hóquei Chicago Blackhawks e Wolves, os de baseball Chicago Cubs e White Sox, de basquete Chicago Bulls e o famoso de rúgbi Chicago Bears. Todos têm seus espetaculares estádios e há sempre algum jogo acontecendo. Não deixe de torcer por seu time favorito!

Mas se você gosta de arriscar a sorte, há um ótimo cassino lá perto: é o Empress Casino Joliet oferecendo uma grande variedade de jogos, shows e restaurantes para uma noite bem animada.

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E as compras?

Na hora do consumo, não perca tempo, pois nada descreve melhor a Michigan Avenue que o apelido "Magnificent Mile". Ela vai da Oak Street até o rio Chicago pontilhada de lojas de todos os tipos, inclusive das grifes internacionais, além de hotéis espetaculares e alguns museus. Nessa época já estão acontecendo os festejos de Thanksgiving e Natal. Veja tudo o que você pode fazer por lá clicando aqui.

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Onde comer bem em Chicago:

Como toda grande cidade, Chicago oferece uma variedade enorme de restaurantes para todos os gostos e bolsos, sendo que a maioria agora faz parte da Green Restaurant Association que só utiliza saudáveis alimentos orgânicos:

Bistrô Campagne
Comandado pelo Chef Michael Altenberg o restaurante só usa ingredientes orgânicos fornecidos pelos fazendeiros locais. Muito bom e barato.

Blue Water Grill Chicago
Com um menu “surf-and-turf” (peixe e carne) dos mais variados. Excelente.

North Pond
O premiado Chef Bruce Sherman cria um menu novo todos os dias dependendo das opções orgânicas que encontra nos mercados. Carta de vinho das melhores da cidade.

Crust
O mais novo, com um forno a lenha para todas as opções de pizzas, pães, sanduíches e muitas saladas. Bom para almoçar entre um passeio e outro.

Signature Room at the 95th
Apesar da deslumbrante vista ser a sua atração principal, já que este restaurante fica no 95º andar do John Hancock Center, a sua comida também é ótima. Se você estiver em Chicago num domingo, não perca o “brunch”, caro mas maravilhoso.

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O melhor hotel da cidade é o Drake, também conhecido como “a grande dama de Chicago”, mantendo seu posto desde 1920 quando abriu! Em estilo renascentista, tem um pátio interno com uma fonte que é perfeito para o chá das cinco ou o drinque das seis! Quartos enormes, serviço impecável, com diárias a partir de USD 395.00 mais taxas.

Outro muito bom é o Sutton Place Hotel, bem moderno, com o lobby em estilo Art Decô e quartos bem estilosos com camas com cabeceiras de couro e fotos de Robert Mappletrorpe nas paredes (não se preocupem, os temas são flores...). Diárias a partir de USD 300.00 mais taxas.

Bem mais barato, mas muito confortável é o Best Western River North, um antigo galpão no bairro da maior badalação noturna, River North. Quartos grandes e confortáveis decorados com muito bom gosto. Diárias a partir de USD 100,00 + taxas.

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Uma historinha:

Numa das vêzes que eu fui a Chicago, meu primo obstetra Luiz Fernando pediu que eu comprasse um novo e revolucionário fórceps articulado, bem diferente dos que eram usados naquela época aqui no Brasil, duros e incômodos. A razão da encomenda era porque a maior fábrica de instrumentos cirúrgicos da América do Norte ficava exatamente lá. Me disse que o tal forceps custava 25 dólares, deu um folheto com a foto e as especificações e 100 dólares, caso eu precisasse tomar um taxi.

Comentei com uma das passageiras que eu ia lá e ela, esposa de médico, imediatamente ligou para o marido no Brasil que já ouvira falar da tal fábrica e pediu algumas coisas. Para encurtar a história, umas oito pessoas quiseram ir também pois filhos e parentes souberam da novidade e pediram não sei quantos instrumentos que seriam comprados a preço de fábrica, bem barato.

A "caravana médica" pegou dois táxis, dei o endereço para os motoristas e lá fomos nós, crentes que o lugar era perto. Perto? Andamos mais de uma hora e meia para fora da cidade e fomos parar num subúrbio estranhíssimo sem vegetação alguma. No meio do nada surgiu um prédio moderno e espetacular: era a tal fábrica! Entramos, exaustos da viagem, mandamos os táxis esperar e o grupo fez a festa! A mulherada descobriu que lá também eram vendidas tesouras, pinças, faquinhas, canivetes, enfim, instrumentos de aço de todos os tipos e mandaram brasa.

Com mil sacolas e pacotes embarcamos de volta e uma hora e meia depois estávamos no hotel. Sabem quanto custou cada táxi para ir, esperar e voltar? Mais de 400 dólares, ou seja mais de 100 por pessoa! E isso em 1974, quando os táxis eram bem mais baratos que hoje. Foi o fórceps mais caro que o Luiz Fernando teve na vida...

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