domingo, 2 de novembro de 2008

O CARPINTEIRO DO SERGIO MENDES

Na tal vez que eu fui para Los Angeles e acabei ficando sem gasolina no meio dos Estados Unidos (se você não leu esta história, leia clicando aqui), muita coisa interessante aconteceu. Naquele ano de 1969 quase todos os compositores e cantores brasileiros estavam lá aproveitando os extertores da fama da Bossa Nova para gravar discos, fazer arranjos com a batida brasileira, “backing vocals” para cantores americanos, shows ao vivo em pequenos night-clubs, enfim, tudo o que fosse possível para ganhar alguns dólares.

O irmão da minha ex-noiva era um compositor bem famoso e sua mulher uma cantora muito prestigiada (e ainda são hoje em dia) que moravam lá há quase dois anos e estavam bem enturmados no mundo musical da Califórnia. Por isso a casa em Tarzana era um oásis para os nossos músicos que iam a essa Terra da Promissão em busca de dicas e talvez de um empurrão na direção certa! E a direção mais certa apontava para o Sergio Mendes, o único brasileiro que realmente fazia sucesso há anos nos Estados Unidos com sua banda que sempre trocava de nome mas que nessa época chamava-se "Brazil 66".
O meu "cunhado" fazia arranjos para o Sergio e a sua mulher reforçava o coro nas gravações de estúdio.

Por mera coincidência, o Sergio era casado com a Marci, que tinha sido minha colega de classe no curso clássico do Andrews. Também por coincidência na época eu trabalhava no jornalismo da TV Globo e entre muitas coisas entrevistava ao vivo os cantores e compositores durante os badalados Festivais Internacionais da Canção, no Maracanãzinho. Quando eu cheguei em novembro logo após o festival, como toda a brasileirada queria saber das novidades do Rio, pintaram convites para todos os lados.

Um deles, o melhor, foi para almoçar na novíssima casa do Sergio e da Marci que tinham acabado de comprar do Dick Van Dyke, o cômico famoso que fez o filme Mary Poppins com a Julie Andrews.

A casa era espetacular: uma “hacienda” espanhola toda de tijolo aparente, muitos arcos com samambaias penduradas, jardins com fontes, salas e mais salas, enfim, uma mansão para ninguém botar defeito. E lá fomos nós almoçar em mesas ao ar livre uma ótima comida mexicana acompanhada de muitas margaritas. Só que uma parte da casa ainda estava em obras – o Sergio estava construindo um estúdio de gravação nos fundos – e a bateção de martelo e o barulho da serra elétrica estavam incomodando a todos.

Às tantas, depois de muitas, mas muitas tequilas, ele deu um ataque e mandou a Marci pedir ao carpinteiro que parasse com o barulho, pois ninguém agüentava mais. E eu que estava com ela relembrando nossos tempos de colégio, fui junto. Chegamos ao estúdio em obras e falamos com ele, um rapaz forte e bonitão com uma cicatriz no queixo e o cabelo arrepiado, que na mesma hora pediu desculpas e desligou a serra. Orgulhoso do seu ofício nos mostrou as prateleiras e balcões quase prontos para instalar o equipamento de estúdio. Trabalho de primeira, o cara era um craque em carpintaria. Muito simpático, disse que não sabia do almoço e que só continuaria no dia seguinte para não atrapalhar mais. Apertou nossas mãos, guardou sua tralha e voltamos para as nossas margaritas, agora só com o som dos grilos e dos discos do Sergio.

Anos depois, em 1973, vendo o filme American Graffiti, dirigido pelo George Lucas, eu achei que conhecia um dos jovens atores, mas não me lembrava de onde.
Quatro anos mais tarde, assistindo ao primeiro filme da saga Star Wars, vi o tal ator de novo! Pois não é que era o carpinteiro do Sergio Mendes que agora interpretava o papel do Han Solo num dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos?

O nome dele era Harrison Ford!
Pelo que eu sei, ele nunca mais trabalhou em carpintaria...

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