Na primeira vez que eu aterrissei na Cidade do México o aeroporto estava em greve e não havia um só carregador que pudesse pegar as malas do meu grupo. Por isso eu é que tive que tirá-las da esteira, colocá-las num grande trólei e arrastar a pilha de bagagem até o ônibus que nos levaria ao hotel. Eu era o guia de uma excursão de 45 pessoas, em sua maioria senhoras idosas, que eu já contei aqui. Quando terminei essa função, eu estava quase desmaiado e com a cabeça completamente oca por ter feito muito esforço naquela altitude toda.
Cheguei ao hotel, distribuí as chaves, fui para o quarto, abri o frigobar, peguei umas garrafinhas de uísque e entrei na banheira para relaxar. Dei um gole, fechei os olhos e de repente tudo tremeu! Pensei que aquele era o uísque mais forte que eu tinha tomado na vida, mas quando abri os olhos tudo parou. Fechei de novo e o tremor desta vez foi tão forte que a água da banheira transbordou! Que uísque que nada, era um terremoto! Saí pingando pelo quarto, telefonei para a portaria e me disseram para ficar debaixo da soleira de uma porta e esperar o próximo tremor! Que medo, principalmente porque o meu quarto era no 12º andar do Sheraton Maria Isabel. E vieram mais dois tremores, menores que os outros, mas o suficiente para derrubar coisas das prateleiras do banheiro.
E eu lá que nem uma estátua grega, pelado e paralisado entre o quarto e o banheiro, sem saber o que fazer. Graças a Deus os tremores pararam e eu me vesti e desci pelas escadas para ver se tinha acontecido algum dano sério. No lobby as pessoas circulavam como se nada tivesse acontecido, aquele entra e sai de turistas e empregados na maior tranqüilidade! Encontrei várias senhoras do grupo tomando drinques no bar e quis saber se não tinham ficado com medo do terremoto. “Terremoto? Que terremoto? Luiz, eu acho que você bebeu...” foi o que eu ouvi antes de falar com o gerente que explicou que os tremores pequenos (!) como aqueles eram sentidos nos andares mais altos, e que nos mais baixos (onde a turma estava) quase nada tremia. Nos sete dias seguintes eu senti vários outros temores, mas aí já estava escolado e não me apavorava mais...
Outra vez eu estava em Miami Beach nos dois últimos dias de outra interminável excursão da Stella Barros de 45 dias pelos Estados Unidos quando soubemos que um furacão estava chegando! A tempestade tropical ainda estava sobre as Bahamas, mas se deslocava rapidamente em direção da Flórida.
Mesmo ainda longe do continente, o vento era tão forte que empurrou todas as mesas, cadeiras e guarda-sóis para dentro da piscina do hotel, virando vasos e derrubando treliças! Quando fomos a pé para as últimas comprinhas, o vento de ré empurrava para a frente, nos fazendo correr mesmo sem vontade! Na volta, o vento de frente nos obrigava a fazer força para andar, e as sacolas tinham que ser seguradas junto ao corpo para não saírem voando! E várias saíram!
À noite na televisão os alertas eram cada vez mais freqüentes enquanto da janela do quarto eu via os coqueiros da praia balançando freneticamente, quase na horizontal, e o vento formava nuvens de areia que aos poucos iam cobrindo as ruas de branco! Nosso vôo estava programado para a tarde do dia seguinte, mas já corriam notícias de que o aeroporto ia fechar. Toca o telefone e era a própria D. Stella Barros, que também estava hospedada no mesmo hotel, pedindo para eu dar um pulinho no quarto dela.
Ela abre a porta, me faz entrar, nos serve duas boas doses de uísque e começa a bater papo como se nada estivesse acontecendo, enquanto eu via lá fora o céu cheio de clarões dos raios. Depois de mais de uma hora de conversa fiada ela se despede e me pede para trazer para o Rio “um pacote” dela cheio de folhetos e roupa suja. E quem era eu para recusar um pedido da dona da agência? No dia seguinte, na hora em que colocávamos as malas no ônibus em meio à maior ventania, surge o tal pacote trazido por um empregado: era um caixote enorme, do tamanho de uma máquina de lavar roupa! E lá fomos nós para o aeroporto, o ônibus chacoalhando pela força do vento, as árvores quase desfolhadas balançando muito, placas e pedaços de madeira voando, e todo mundo apavorado. O furacão desta vez estava chegando mesmo.
Não acreditei quando o rapaz do check-in disse que o vôo estava no horário e que sairia numa boa. Embarcamos e a decolagem foi das mais palpitantes, com o imenso Jumbo corcoveando bastante durante uns 10 minutos. Depois a coisa acalmou e viemos tranquilamente até o Rio. Nos jornais brasileiros do dia seguinte li que o nosso foi o último vôo que levantou naquele dia. O aeroporto fechou logo em seguida e só reabriu dois dias depois.
O que não foi tranqüila foi a passagem pela alfândega, pois mandaram abrir o tal caixote e de dentro saiu uma moderna mesa de aço e acrílico! Tive que pagar uma taxa bem alta (com o dinheiro da agência, lógico) para liberar a tralha, depois de horas discutindo com os agentes policiais...
Em 1969, em Los Angeles, eu fiquei uns dias hospedado na casa da Gracinha Leporace, cantora do conjunto Bossa Rio que morava no bairro de Reseda, em San Fernando Valley, num ótimo sala e quarto. O prédio tinha quatro andares na forma de um quadrado e uma grande área de lazer no espaço interno com jardins tropicais e duas piscinas. As janelas dos apartamentos davam para as montanhas e as freeways sempre cheias de carros.
Como ela viajou por duas semanas em turnê com o Sergio Mendes e o Brasil 66 para o Japão, saí de um motel horroroso e me mudei para lá de armas e bagagens. Mas como acabei indo de carro para Nova York na tal aventura que já contei aqui, deixei uma mala no apartamento e só voltei 15 dias depois.
Nesse meio tempo aconteceu um dos mais fortes terremotos da Califórnia, destruindo casas, prédios e auto-estradas na Cidade dos Anjos e redondezas. Nós só soubemos disso no meio do caminho de volta, pela televisão de um motel no Grand Cânion, e ficamos preocupados com a turma amiga que morava em L.A.
Quando chegamos de volta ligamos para todos e nada de ruim tinha acontecido com ninguém, mas o bairro de Reseda fora bem afetado. Dirigi até o prédio da Gracinha, tendo que dar voltas para evitar as freeways destruídas, e levei um susto ao ver de longe que toda a fachada lateral do condomínio tinha caído, deixando os apartamentos abertos, sem janelas, como grandes vitrines! Da rua dava para ver tudo dentro de cada casa, quadros, móveis, lustres, uma sensação estranhíssima.
E lá no quarto andar, no terceiro buraco da esquerda, junto à porta do banheiro, estava a minha mala de xadrez vermelha quase caindo na rua!
Nem sei como consegui passar pela turma da segurança pública que só deixava entrar moradores, mas subi acompanhado de um operário de capacete protetor e com muito cuidado entrei no apartamento, peguei minha mala e me mandei!
Terremotos, nunca mais!
sexta-feira, 22 de maio de 2009
ENFRENTANDO TERREMOTOS E FURACÕES!
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