quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A MÁGICA DA DISNEY... E DA TIA ELIANE!

Como guia de excursões eu devo ter acompanhado ao longo de muitos anos mais de mil pessoas para Orlando, tantos eram os grupos das agências de turismo que me contratavam, como a Stella Barros, Brazillian Promotion Center, Travel Service, Bancor e outras que nem me lembro mais o nome. No fundo todas as excursões para a Disney são iguais: incluem passagem, traslados, acompanhamento de guias, hospedagem, tickets para todos os parques, dias livres para compras e muita alegria. O que diferencia uma da outra é o número de noites, a categoria dos hotéis ou os opcionais para Nova York ou Bahamas. E como eu adoro a mágica de Orlando, eu trabalhava como guia e me divertia muito ao mesmo tempo!

Até que um dia eu conheci a Tia Eliane!

Loura e exuberante, muito falante, óculos enormes, me viu de camiseta de guia sentado sozinho na lanchonete bem refrigerada do Parrot Jungle, um abafado parque em Miami cheio de araras e cacatuas, visita obrigatória nas excursões para a Flórida nos anos 80, e veio puxar conversa. Eu estava com um grupo do Rio e ela com centenas de passageiros, para variar. Em cinco minutos estávamos às gargalhadas e não deu outra: meses depois eu era o novo guia da sua agência de Belo Horizonte, um carioca da gema no meio de um trem de mineiros simpáticos demais da conta! E a partir daí foram anos seguidos de viagens em janeiro e julho, e de uma forte amizade que dura até hoje.

Nenhuma agência com quem eu trabalhei na vida chegou perto do alto nível das excursões dela. Do começo ao fim as viagens eram perfeitas e deliciosas, visando a mais pura diversão, sem correrias nem stress de horários e muito menos de “wake-up calls” às 8 da manhã! Os hotéis eram os melhores de Miami e Orlando, sempre 5 estrelas. E os grupos eram imensos! Lembro-me do maior deles, quase 360 passageiros divididos entre um avião da Varig e outro da Pan American, com vários guias e supervisores, 9 ônibus nos esperando nos aeroportos, hotéis e parques, enfim, uma verdadeira operação de guerra meticulosamente planejada com bastante eficiência para dar tudo certo. E não se perdeu uma mala!

Além dos parques e shoppings, Tia Eliane sempre descobria alguma coisa extra para oferecer aos passageiros. Uma vez vimos um show do Frank Sinatra na Orlando Arena, inesquecível. Era só ela dar a idéia e a turma toda topava.

Uma das coisas mais chatas em qualquer viagem é chegar cedo ao hotel e só ter seu quarto liberado depois das 3 da tarde. Para evitar esse incômodo, ela bolou uma chegada perfeita a Orlando depois dos 3 dias que passsávamos em Miami no início da viagem para fazer compras. Chegando à Disney os ônibus deixavam a garotada ávida por diversão no Magic Kingdom e depois iam para o hotel descarregar as bagagens com guias supervisionando a sua distribuição. No final da tarde o grupo cansado de tanto andar nos brinquedos e nas montanhas-russas voltava do parque direto para um grande salão do hotel onde drinques e salgadinhos os esperavam para a entrega das chaves. E de repente abria-se uma porta e aparecia o Mickey Mouse em pessoa para dar as boas vindas à turma que, encantada, não parava de tirar fotos, com os flashes espocando sem parar! Depois dessa função todos subiam para os quartos em estado de graça e já encontravam suas malas lá dentro além de uma cesta de frutas com um cartão da agência. Bacana, não?

Eu estava uma vez tomando conta da chegada das malas antes do povo voltar quando uma imensa Samsonite caiu do caminhão fazendo um barulhão de louças e talheres se espatifando bem na entrada do Hotel Contemporary! Eu e o carregador levamos um susto danado e ficamos preocupados. Fui correndo falar com a Tia Eliane que na mesma hora deu uma sonora gargalhada e me tranqüilizou: “Luiz, essa é a mala da cozinha, e é tudo de metal, não quebrou nada”! Mala da cozinha? O que? Dentro do melhor hotel da Disney? Pois é, ela me explicou, a dona dessa mala vem todo ano com os netos e apesar de adorar Orlando, detesta a comida americana, daí trazer fogareiro elétrico, panelas, cumbucas, temperos e vários mantimentos para cozinhar no banheiro do hotel! O neto desativa o detector de fumaça do teto e ela faz arroz de carreteiro, farofa, rosbife, carne assada, tudo na maior calma! E logo no dia seguinte a senhora me chamou discretamente num canto e lá fui eu comer um feijão tropeiro maravilhoso...

Certa vez com ela e alguns do grupo fiz um dos melhores programas para quem curte bastante os parques do Walt Disney World: conhecer os bastidores das atrações todas, vendo de perto como é o outro lado da mágica! É a “Backstage Magic Tour” que leva você para visitar o Magic Kingdom por baixo e por trás, descobrindo muitos dos segredos que ajudam a fazer funcionar aquela maravilha toda.

Depois de ouvir uma rápida palestra sobre o sonho do Walt Disney de construir um parque para crianças onde adultos também pudessem se divertir, partimos rumo ao desconhecido a bordo de uma bem refrigerada van. Saltamos num local ermo, entramos numa espécie de galpão e de repente estávamos dentro do Piratas do Caribe, por trás dos bonecos mecânicos que cantavam e se mexiam sem parar! Muito estranho e escuro, nós víamos através de frestas no cenário as pessoas nos barcos se divertindo sem desconfiar que vinte xeretas as espiavam! Numa sala separada, vários "imagineiros" (imaginação + engenheiros)consertavam e faziam manutenção em dois enormes piratas desmontados e pelados! Muito esquisito ver os bonecos sem cabeça com mil fios e roldanas saindo da barriga aberta!

Em seguida subimos uma escada e nos vimos dentro de uma sorveteria da Main Street, mais uns passos depois e o Peter Pan estava voando sobre nossas cabeças! Andamos para a direita e saímos direto no Castelo da Cinderela, impressionados com a perspectiva forçada dos cenários e dos prédios que sempre pareciam maiores do que realmente eram. E por aí fomos entrando e saindo de atrações e lojas cada vez mais encantados com os efeitos técnicos de iluminação e de mecânica, sempre por baixo e sem que nenhum visitante percebesse.

Descemos uma longa escada e chegamos ao subsolo do parque, imenso, com verdadeiras avenidas coloridas por onde circulavam caminhões e carros cheios de bonecos, mercadorias e sorvetes que eram entregues nas lojas acima através de pequenos elevadores. E havia o maior tráfico subterrâneo, com mão e contramão, sinais e guardas controlando o fluxo! Se você prestar a atenção, ninguém que está nos parques vê a mercadoria entrar nas lojas, pois é tudo feito por baixo.

Alguns carros elétricos levavam fantasias do Mickey e de outros personagens para a tinturaria, a maior do mundo! Lá ficamos sabendo que cada empregado, seja ele atendente de loja, personagem, bilheteiro ou artista de show tem sempre 3 roupas: uma em uso, outra lavando e mais uma pronta de reserva. Ficamos boquiabertos com as fantasias de Mickey, Pateta, Pluto e Donald penduradas em correias suspensas navegando pelo teto até chegar a seu destino, que poderia ser a alfaiataria para serem consertadas, para os camarins onde os atores iam vesti-las ou para um grande depósito aguardar a hora de ser usada. Muitas costureiras faziam bainhas, rebordavam roupas ou pregavam botões.

Vimos várias salas de ensaio onde homens e mulheres treinavam os movimentos dos diversos personagens que iam representar ou ensaiavam as coreografias dos shows e dos desfiles. Nos muitos camarins as moças eram maquiadas e penteadas para ficarem iguais à Alice ou à Branca de Neve. Você sabia que as fantasias de todos os personagens pequenos, como o Mickey, a Minnie e o Donald são sempre usadas por mulheres e os grandes como o Pateta, Pluto e João Grandão por homens? E já reparou que nenhum deles fala, para não quebrar o encanto? Cada "character" tem seus movimentos próprios muito bem ensaiados de acordo com uma ficha técnica, e nenhum dos atores trabalha mais de 3 horas por dia, para não morrer de calor debaixo daquelas roupas grossas e peludas!

Depois visitamos o enorme jardim botânico com milhares de mudas de plantas e flores de todas as espécies em várias etapas de crescimento para serem trocadas quase que diariamente nos canteiros dos parques, e vimos os jardineiros aparando as topiárias, que são aquêles arbustos esculpidos em formato de bichos. E terminamos a visita na usina quase nuclear que fornece a energia elétrica de todos os parques, produzindo mais quilowats do que muita cidade no mundo. Já imaginou o tamanho da conta da luz se não houvesse essa usina?

Antes de voltar ao hotel passamos por uma turma que já preparava as várias barcaças com os fogos de artifício que todas as noites pipocam no céu, e por uma grande equipe dando os últimos ajustes nos carros alegóricos da parada das 3 da tarde, com os rapazes e moças já fantasiados prontos para entrar em cena. Se você curte muito a Disney, faça uma visita dessas pois vale a pena! Agora há várias opções, entre elas uma de dia inteiro passeando pelos bastidores do Magic Kingdom, Epcot Center e Disney & MGM Studios, que deve ser sensacional.

E a Tia Eliane?

Continua igualzinha, levando centenas de pessoas para Orlando várias vezes ao ano através da sua Tia Eliane Tours e continua me chamando para voltar a ser guia depois de tantos anos! Pode?
Proporcionando ainda mais alegria aos passageiros, as suas excursões de um tempo para cá tem atrações extras, como cantores famosos ou jovens galãs de novelas que viajam com o grupo, tornando a viagem inesquecível! Olha só ela grudada no Cauã Reymond que foi com o grupo recentemente...

Depois de alguns anos só nos comunicando por telefone ou email, agora temos nos visto muito em Nova York quando eu estou de férias com a família e ela está acompanhando as viagens opcionais depois de Orlando. Mas sempre dá um jeitinho de escapulir e jantar conosco, o que é ótimo para matar as saudades e morrer de rir ao lembrar das coisas malucas e engraçadas que aconteciam nessas viagens. Bons tempos aqueles...

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