quinta-feira, 31 de julho de 2008

DIÁRIO DO GUIA # 1: UM DOENTE NAS ALTURAS!

Quando você é guia de excursões e viaja acompanhando turistas pelo mundo afora, além das óbvias obrigações de checar horários da programação, confirmar vôos, dar avisos, supervisionar o check-in nos hotéis e aeroportos, distribuir boarding-cards, contar malas, fazer wake-up calls, dar sugestões de passeios nos dias livres, traduzir tudo para quem só fala português, e estar sempre a postos para qualquer informação adicional, há ainda imprevistos e surpresas que surgem de uma hora para a outra e que podem colocar em jogo a sua capacidade profissional.

O guia é o manda-chuva do grupo, o representante legal da agência, a voz maior da excursão, e todos os passageiros têm que respeitá-lo e acatar suas decisões para o bom andamento da viagem. Precisam sentir a sua autoridade mas não podem ficar dependentes, caso contrário você não consegue fazer mais nada.
E é claro que o guia tem que ser também o animador da festa, o brincalhão, o apaziguador de brigas, o cupido, e o cara experiente que já conhece a cidade e dá as melhores dicas sobre tudo, mesmo sem nunca ter estado lá antes…

Isso aconteceu comigo na primeira viagem ao Japão. Eu nunca tinha ido antes e de cara fui guiando 35 pessoas! Lógico que antes do embarque eu fiquei uma tarde inteira na agência recebendo instruções de uma guia que já tinha ido mais de seis vezes e como ela era muito detalhista, me deu todas as informações por escrito. Como no Japão os guias locais são perfeitos e acompanham a excursão o tempo todo, do primeiro ao último dia da viagem ninguém desconfiou que eu fosse um novato na terra do sol nascente.

Só tive uma surpresa na primeira viagem, e das boas: eu sabia que duas lojas de Tóquio pagavam comissões ao guia sobre as compras do grupo, e já estava saindo para recebê-las. Mas ao abrir a porta do quarto dei de cara com seis japoneses de terno preto e óculos escuros esperando por mim, parecendo membros da máfia japonesa, a temível Yakuza!
Mas em vez de me atacar cada um entregou um gordo envelope fechado e sairam de costas fazendo muitas reverências. Quase pulei de alegria ao ver que ali estava a maior comissão que recebi na minha vida, trezentos e tantos mil ienes que rapidamente viraram mais de 3 mil dólares! E de lojas que a turma tinha ido por conta própria e que eu nem conhecia…

Na segunda ida ao Japão a coisa complicou. Na hora de embarcarmos de volta em Tóquio, já na fila para entrar no avião, um passageiro que viajava sozinho me chamou e eu vi que algo muito grave estava acontecendo: ele estava verde de dor por conta de pedras nos rins, e mal conseguia andar. O que eu ia fazer? Se chamasse um médico no aeroporto com certeza ia interná-lo para exames. Ele não falava inglês e muito menos japonês. Se eu ficasse com ele o que aconteceria com o grupo sozinho em San Francisco e Nova York?

Chamei a turma num canto e expliquei a situação. O doente, gemendo muito, disse que queria embarcar de qualquer maneira. Eu e dois outros garotões o pegamos por debaixo dos braços e o fomos carregando em direção ao finger. Todas as senhoras ficaram à nossa volta fazendo uma paredinha na hora da entrega do boading-card para que a atendente da Japan Airlines não percebesse que o homem estava praticamente desmaiado. Arrastamos o doente e entramos no avião, o colocamos na primeira cadeira vaga, apertamos o cinto e o cobrimos com um cobertor até a cabeça. As aeromoças não perceberam nada.

Em pouco tempo o avião partiu e todos respiraram aliviados. Meia hora depois eu chamei um comissário e expliquei que o passageiro começou a passar mal depois que levantamos vôo e precisava de cuidados médicos. O rapaz deu uma olhada no doente que a estas alturas estava azul e se contorcendo de dor, pegou o microfone e fez um apelo para saber se havia algum médico a bordo.

E aí aconteceu uma verdadeira cena de filme: abrem-se as cortinas da primeira classe e surge um médico vestido de branco com uma maleta e um estetoscópio tendo a seu lado uma enfermeira de uniforme e chapeuzinho branco com uma cruz vermelha! Fiquei pasmo! Eu sabia que a JAL era uma excelente companhia, mas médico e enfermeira uniformizados a postos nas alturas?

Na verdade os dois estavam acompanhando uma senhora bem idosa e rica e foram muito solícitos, examinando o doente e dando remédios contra dor e para dormir. Até eu ganhei um sonífero, pois o médico viu que eu estava à beira de um ataque de nervos!

Muitas horas depois chegamos a San Francisco e uma cadeira de roda e uma ambulância nos esperavam, mas a crise já havia passado e ele saiu andando normalmente do avião.
E graças a Deus, para a minha sorte, até o fim da excursão a dor não voltou!

domingo, 27 de julho de 2008

NA SANTA PAZ DE MÍKONOS

A maioria das pessoas adora ir para a Grécia e navegar pelo mar Egeu conhecendo as ilhas no auge do verão, quando o calor é intenso e as multidões lotam praias, barcos, hotéis, ruas e restaurantes. Mas quem sabe mesmo das coisas só viaja para lá a partir do final de agosto, quando tudo se transforma. Anote as informações e dicas da revista francesa "Maisons Coté Sud" sobre Míkonos, uma das ilhas mais concorridas e aproveite mais sua próxima viagem...

Durante a alta estação Míkonos incha, atraindo artistas e turistas que fazem da ilha um paraíso do jet-set internacional. Mas existe uma outra Míkonos mais tranqüila e secreta, perfumada pelas flores, acariciada pelo vento morno “meltem” e eternamente beijada pelo mar...

Eis o que fazer:


Sob a treliça em Agios Sostis degustar berinjelas grelhadas, ou em Ano Mera comer uma tortinha de “kopanisti”, queijo apimentado que vai bem com um copo de ouzo.

De vila em vila, visitar as fileiras de igrejinhas, minúsculos santuários erguidos por piratas arrependidos, brancas como as conchas por fora, mas cintilantes de ouro e de ícones por dentro.

Próximo a Agios Ioannis, numa curva da estrada, descubra uma praia cheia de agaves, com a água tão cristalina que os barquinhos parecem voar...

Você precisa, em Chora, toda branca, a capital com dezesseis moinhos, se perder pelas de ruelas caiadas, bonitas como um cenário de teatro com suas varandas e balcões cobertos de buganvílias.

A imensa claridade do mar Egeu envolve a paisagem entrecortada de blocos de granito gigantes e pequenos bosques. Ao norte da ilha, na enseada de Agios Stefanos, abriu no ano passado o Hotel Mykonos Grace, redefinindo o estilo grego insular através de uma estética moderna e leve. Vale a pena visitá-lo.

No vilarejo de Tarsanas, ao sul da ilha, onde ainda vivem os descendentes dos marinheiros conhecidos como “os selvagens”, porque enfrentavam o mar sem dar bola para as previsões meteorológicas, você pode se deliciar com peixe e polvo grelhado no restaurante da animada Flora Galouni, a única pescadora das Cíclades...

À noite, quando as ondas douradas batem nos quebra-mares de Alevkandra, a “pequena Veneza”, você pode passar de novo pelas ruas de Chora até o santuário de Paraportiani, o mais antigo de Mykonos. Composto de cinco igrejas interligadas é uma construção incrível caiada de branco, onde as formas curvilíneas foram modificadas e reinventadas ao longo dos séculos e das muitas mãos de tinta.

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Onde comer:

CHEZ MAERIO – 16, Rua Kalogera – tel. 22890-28825.
Uma pequena e honesta taberna grega, escura e íntima, com uma ótima relação qualidade/preço. Não deixar de comer os croquetes de abobrinha de entrada, seguido dos assados de carne e legumes bem macios. Preço médio 15 euros.

AQUA TAVERNA – Pequena Veneza – tel. 22890-26083
Se você gosta de “souvlakis”, este excelente restaurante italiano divinamente localizado na beira do mar, entre os moinhos e as varandas coloridas da “pequena Veneza”, é uma boa alternativa. Risotos e massas de todas as formas e tipos. Preço médio de 25 a 30 euros.

CHEZ KIKI – Agios Sostis
Um dos tesouros da ilha. Imagine-se num minúsculo terraço sob uma treliça coberta de mimosas espremido entre uma igreja branquinha e um barranco de areia... O churrasco vem bem quente, o tabule bem crocante, o vinho branco geladinho. Prove o polvo marinado e o queijo feta grelhado. É a felicidade grega!
O dono cultiva o segredo (lá não tem telefone) e conta com a sua discrição. Preço médio de 20 a 25 euros.

AMOTHIELA – Tarsanas, Kalafatis.
Três casinhas brancas, redes secando ao sol, umas cabras e uns perus soltos. É nesse local remoto que Flora Galouni comanda a sua cozinha. A decoração kitsch engana, pois os peixes, camarões e lulas grelhados na brasa são maravilhosos. Preço médio 15 a 20 euros.

ANEPLORA – Kalafatis – tel. 22890-72470 480
Um grande e claro terraço coberto sem nenhum charme aparente, mas oferecendo uma excelente cozinha. Lulas, sardinhas e peixes empanados, camarões cozidos no ouzo, tudo é fresco, farto e bem preparado. Preço médio 15 a 20 euros.

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Lugares para visitar:

Em Chora:
Igreja de Paraportiani, do século 16, remodelada pelos homens e pelo tempo, um dos mais bonitos e emocionantes monumentos das Cíclades. Vê-la em diversas horas do dia para apreciar a mudança da luz no seu interior.

O Museu Marítimo, instalado em uma casa tradicional, retrata toda a história da navegação no mar Egeu e tem várias maquetes de navios. Ótimo para crianças e adultos. Tel. 22890-22700. Abre de 10h30 as 13h e das 18h30 às 21h.

No resto da ilha:

O vilarejo de Tarsanas perto de Kalafatis, com seu ar de fim do mundo, autêntico e curtido pelo mar.

A charmosa igreja de Agios Sostis, quase mergulhando no mar.

O Mosteiro de Tourliani, com seu campanário de mármore, suas imagens, seu museu de arte eclesiástica e seu pároco sempre sorrindo, em Ano Mera. Abre das 9h às 13h e das 14h às 19h30.

A ilha de Delos, pertinho, antigo centro religioso e comercial, agora uma pequena pátria de granito e luz, cheia de ruínas maravilhosas onde ainda está presente o espírito de Apolo. Partidas do porto de Mykonos de 9h às 15h por três companhias de barcos.

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Que praia ir?

Agios Ioannis – Ao sudoeste, depois do minúsculo porto protegido por uma capela, siga por uma estrada que passa por um pequeno córrego pedregoso de águas muito transparentes.

Panormos – O ponto de encontro familiar do nordeste da ilha. Com um restaurante-lounge-bar em cima da água oferecendo frutos do mar grelhados em ambiente bem descontraído.

Kalafatis – A sudeste de Ano Mera, a praia é um “point” disputado pelos adeptos do surfe e windsurfe, com um centro de aluguel de material que ainda oferece cursos para os diversos esportes aquáticos.

Psarou – Cercada por um bar e uma taberna, uma praia gostosa e cheia de árvores, ao sudoeste da ilha.

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O que comprar de lembrança?

Goma de mascar moderna, ancestral do Malabar, o “Mastic” é uma goma feita da resina de uma árvore local muito famosa nas Cíclades que as mulheres dos haréns adoravam. Conhecida por suas qualidades anti-sépticas e cosméticas, ela entra na composição de pastas de dente, cremes de beleza, óleo para o corpo, dragées, biscoitos, doces... E faz muito sucesso hoje em dia também, em embalagens
“vintage” que evocam os anos 60 nas ilhas.
Mastihashop Mykonos, 11 Rua Kouzi Georgouli, Barkia Chora. Tel. 22890-23885.

Pâtisseries orientais – São as mais raras guloseimas tradicionais da ilha, vendidas desde 1921 em lindas caixinhas antigas, todas à base de amêndoa: “amygdalotas”, doce em forma de pequenos sorrisos; “rozedes”, de pasta de amêndoa; “kalathakia”, tarteletes, e ainda um xarope batizado de “soumada”.
Skaropoulos, Koukas Nikolaos. Tel. 22890-25211.

Esponjas – As verdadeiras esponjas, colhidas nas águas claras do Mediterrâneo, para fazer bastante espuma no seu banho! Só para saber: as amarelas são as tratadas e as marrons são as mais naturais. Vendidas numa butique engraçada com um escafandro na porta que também vende conchas variadas e todos os tipos de souvenires.
Kolletis, Rua Nikolaos, Chora. Tel.: 69770-70744.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

CEMITÉRIO DE AVIÕES NO DESERTO DO ARIZONA!

Na cidade de Tucson, no deserto do Arizona, fica a Base Aérea Davis Mothan, onde estão estacionados milhares de aviões militares de todos os tipos, tamanhos e marcas num local chamado "bone yard", ou seja, cemitério dos ossos!

O mais impressionante é a precisão milimétrica com que os oficiais posicionam as aeronaves, algo nunca visto antes!

Se você alguma vez estiver pelo Arizona, não deixe de ver de perto este "cemitério" e visitar também o Museu Aéreo de Tucson, ao lado da base, que é a única unidade da força aérea americana que dá lucro, só com a venda dos ingressos!

Esta é a terceira maior força aérea do mundo totalmente desativada, mas que pode voltar a voar novamente se for necessário. Esperemos que não...

Mesmo que você já tenha visto isso antes, olhe novamente e tente contar os aviões.
Nem os oficiais sabem o número exato...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

BEBERICANDO PELO NAPA VALLEY

Na próxima vez que você for a San Francisco, na Califórnia, tem que passar pelo menos um dia visitando os vinhedos de Napa Valley e provar os deliciosos Pinot Noirs, Cabernet Sauvignons, Cabernet Francs e muitos outros vinhos da região, inclusive os ótimos espumantes.



Há várias formas de visitar as caves, sendo a mais tranqüila alugar um carro, pegar um bom mapa dos vinhedos e sair em frente, parando onde você quiser e provando as especialidades de cada uma. Para quem não dirige ou não quer enfrentar os bafômetros depois de tanta provação, há excursões de dia inteiro em pequenos ônibus que levam você a três ou quatro vinhedos, sempre com a presença de um guia especializado que vai explicando tudo sobre as uvas e vinhos locais. É uma boa pedida.




E há ainda a opção de embarcar no Napa Valley Wine Train, um trem especial que sai de San Francisco todos os dias pela manhã e percorre todo o vale. A bordo um sommelier faz palestras e comenta sobre as especialidades das uvas de cada cave, enquanto você prova os vinhos que ele acabou de descrever, respondendo também a perguntas e esclarecendo qualquer dúvida.

Depois você almoça ou janta no vagão restaurante, participando de uma verdadeira experiência culinária gourmet preparada a bordo com produtos locais e servido em mesas com toalhas de linho e louças e cristais sofisticados. É claro que cada prato é harmonizado esplendidamente de acordo com vinhos que o sommelier recomendar de melhor. E você volta à cidade no final da tarde totalmente empanturrado e até um pouco alegre, mas muito feliz...

Qualquer que seja a forma de conhecer a região, na sua primeira vez você vai ficar meio perdido com tantas opções de vinhedos. As associações dos produtores locais recomendam aos principiantes um itinerário de visitas que dá uma boa idéia da variedade de degustações e experiências, sendo uma perfeita introdução para quem nunca foi lá.

Use essa listinha para começar, e depois parta para as suas próprias descobertas!
Clique nos nomes em azul e visite cada um dos vinhedos...

Del Dotto Vineyards
Conhecido por sua hospitalidade, a Del Dotto tem excelente caves de mais de 120 anos. Faça o ótimo tour que mostra como os barris e a sua fabricação afetam o processo de feitura do vinho. Suas degustações são bem generosas...

Robert Mondavi Winery
Um dos vincultores mais conhecidos do vale, a visita proporciona um grande conhecimento da fabricação do vinho e um bom panorama geral da região. Visita obrigatória para quem está indo pela primeira vez.

Peju
Ao contrário das grandes vizinhas, Peju é uma vinicultura pequena e familiar em estilo francês localizada numa das mais belas regiões do Napa. Está se tornando tão popular que nos fins de semana fica lotada de visitantes.

Beringer Vineyards
Essa é outra grande vinicultura das mais antigas do vale, fazendo parte de sua história.
Os guias e sommeliers são muito gentís e verdadeiros mestres na arte de educar o seu paladar.


Frank Family Vineyards
Agora muito badaladas, as degustações da família Frank são divertidas e educativas, sempre começando com os espumantes e depois passando para os vinhos mais sérios.



Schramsberg Vineyards
Um dos mais conhecidos produtores de espumantes e champanhes do vale. Com uma história que vem desde 1862, as suas caves são as mais espetaculares da Califórnia.





Clos Pegase Winery
Quase todos os vinicultores do Napa Valley têm outras paixões além do vinho, e na Clos Pegase o interêsse de seus proprietários é arte. Com caves magníficas e um verdadeiro museu com um grande acervo, esse vinhedo proporciona uma experiência única!

E se você quiser ter ainda uma melhor visão do Napa Valley, faça um vôo de balão e veja de cima tudo o que você depois vai provar em terra firme! Saúde!

sábado, 12 de julho de 2008

ALARME EM HOLLYWOOD: PELADO NA CALÇADA DA FAMA!

Numa das vezes que eu fui a Los Angeles como guia de uma excursão da Stella Barros que percorria México, Estados Unidos e Canadá, fiquei hospedado no hotel Los Angeles Hilton, a dois passos do Hollywood Boulevard e suas atrações cinematográficas.

Eram 45 passageiros, em sua maioria casais com filhos adolescentes e muitas senhoras solteironas, viúvas ou desquitadas - naquela época no Brasil não havia divórcio - formando um grupo bem animado. Passeamos muito, fomos ao Chinese Theatre ver as marcas dos pés e das mãos dos astros, ao Wax Museum ver as estátuas de cera, andamos pela Calçada da Fama pisando nas estrelas, assistimos a um show no Hollywood Bowl, almoçamos no Farmer’s Market, enfim, tudo o que tínhamos direito.

No terceiro dia liga Tia Eleonora do Rio de Janeiro dizendo que meu primo Luiz Fernando ia passar uma noite em LA e perguntando se podia ficar comigo. Claro que podia, já que desta vez eu estava só, fato raro nas excursões, pois o guia sempre rachava o quarto com outra pessoa para diminuir os custos da excursão.
Ele chegou, batemos um papo rápido e saí com uma turma que queria jantar fora. Luiz Fernando não foi, pois estava cansado e ia embarcar cedo no dia seguinte nem sei mais para aonde.

No grupinho que foi jantar havia um casal de poloneses, os mais velhos do grupo, muito simpáticos por sinal, que fizeram questão de me convidar para sentar com eles e me pagaram a conta. E eu reparei discretamente que nos braços dos dois havia tatuado aquele número infame dos campos de concentração da Alemanha.

Comemos e bebemos e por volta das onze voltamos a pé para o hotel, todos felizes e relaxados. No dia seguinte embarcaríamos para Las Vegas! Entrei no quarto que ficava no 20º andar e ví que o meu primo dormia a sono solto no escuro. Fui ao banheiro, tirei a roupa e cai na cama querendo dormir bem para estar descansado na manhã seguinte.

Dormir bem? Nem pensar! Por volta da meia-noite acordo sobressaltado com o som incrivelmente alto de alarmes de incêndio tocando aos berros pelo hotel todo! Saltei da cama e abri a porta: no imenso corredor várias pessoas de camisola e pijama corriam que nem baratas tontas e tentavam entrar nos elevadores ou descer pelas escadas, gritando e fazendo a maior algazarra.

Voltei ao quarto, abri a cortina da janela e quase infartei quando vi uns sete carros de bombeiro e outros tantos de polícia vindo a mil pela freeway em direção ao hotel, com todas as sirenes ligadas e aquelas luzes coloridas rodopiando e piscando sem parar!

O primeiro carro, imenso - parecia uma limusine vermelha - já quase chegando ao hotel, tinha um barco e dois cachorros dálmatas na parte de cima!
Era uma cena daquele filme "O Inferno na Torre" ao vivo e a cores!

Abri a janela – naquele tempo as janelas dos hotéis americanos ainda abriam - olhei para baixo e vi dezenas de pessoas correndo pela rua a cata de táxis! E ví também a minha possível salvação: a enorme piscina azul clara toda iluminada, bem abaixo do nosso bloco! Se não der para descer, eu pulo!

Mas como eu não vi nem fogo nem fumaça, liguei para a recepção, me identifiquei como o guia do grupo e perguntei o que estava acontecendo. Muito calma, a atendente me disse que aquilo tinha sido um alarme falso! Algum engraçadinho do terceiro andar havia acionado o alarme e os bombeiros estavam tentando desligá-lo. Fiquei aliviado duas vezes: não era incêndio e todos da excursão estavam hospedados acima do décimo andar!

Mas a moça me pediu para descer e ajudar na tradução porque o lobby estava cheio de pessoas desesperadas querendo ir embora, e como muitos não falavam inglês não entendiam o que o staff do hotel explicava.

O hotel tinha oito elevadores, mas quando as portas se abriam você via que já estavam lotados que nem sardinha em lata! Um abriu e fechou as portas rapidamente, mas o bastante para eu ver um japonês de quimono estapeando uma japonesa de camisola ajoelhada no chão tendo uma crise histérica! Outro, muito cheio também, tinha um rabino e várias criancinhas de mantô preto orando! Desisti e acabei descendo a mil por hora pelas escadas em busca dos meus passageiros perdidos.

Cheguei quase sem fôlego ao grande hall e a confusão era indescritível! Gente de todos os tipos e idades vestindo shorts, camisolas, mantôs, capas de chuva, tudo o que puderam pegar às pressas. Uns choravam, outros tremiam, mães agarravam seus filhos, crianças corriam no meio dos bombeiros, garçons traziam bandejas com montes de latas de coca-cola, um gerente do hotel dava ordens de megafone, enfim, uma zorra total!

Duas senhoras do grupo me chamaram e disseram que os poloneses estavam na calçada pegando um táxi para fugir do fogo que não existia! Saí correndo, desci a escadaria e realmente vi a senhora já sentada no táxi de vestido de pailleté – acho que foi a primeira coisa que ela pegou no armário – e o marido colocando as malas no bagageiro. Corri até o carro na calçada e pedi para voltarem, expliquei que tinha sido um alarme falso, que não havia perigo algum, etc e tal.

A senhora, muito emocionada mas me olhando de um modo bem esquisito, disse baixinho: “Luiz, nós já escapamos de um fogo uma vez e não queremos arriscar novamente”. Fiquei atônito com esta frase e ajudei-os a subir a escadaria de volta ao lobby, acompanhando-os até o elevador. E aí o marido virou para mim e disse: “Luiz, obrigado por tudo, mas da próxima vez você podia vestir alguma roupa!”.

Foi aí que eu olhei para baixo e me dei conta que estava apenas de cueca no meio daquela zona toda! Cueca, não! De Zazá, que era uma espécie de biquíni de pano com dois elásticos na lateral, praticamente pelado! Eu saí do quarto tão enlouquecido que nem percebi que tinha dormido sem pijama! Ainda bem que o corpinho estava em plena forma!
E assim mesmo continuei pelos corredores do hotel catando os remanescentes da turma até o fim.

No dia seguinte, no ônibus que nos levou ao aeroporto, o assunto era a confusão da véspera. Vocês acreditam que metade do grupo nem ouviu o alarme e a gritaria e pensou que tínhamos inventado a história toda? E meu primo Luiz Fernando, que acordou mais cedo e apenas deixou um bilhete de até logo, quando nos encontramos algumas semanas depois no Brasil, também não sabia de nada?

E se fosse mesmo um incêdio?

terça-feira, 8 de julho de 2008

A CIDADE MAIS FRIA DO MUNDO!

Para os cariocas que já começam a reclamar quando a temperatura diminui nos nossos poucos dias de inverno, vejam o que é frio para valer!
Shaun Walker escreveu esta reportagem para o jornal britânico The Independent, a Revista da Semana e para o NeoSeganet Reporter, e eu, impressionado, a reproduzo para você.

"Pela primeira vez na vida descobri o seguinte:

- A 5°C negativos o frio pode ser refrescante.
- A 20°C negativos a umidade no nariz se congela e fica difícil não tossir.
- A 35°C negativos a pele exposta ao ar fica dormente e a necrose é um risco.
- E a menos 45°C até usar óculos fica complicado. O metal gruda no rosto e nas orelhas e rasga pedaços da pele quando você decide tirá-los...

Sei disso porque acabo de chegar a Yakutsk, uma cidade remota na Sibéria Oriental (população: 200 mil), que detém a fama de ser a cidade mais fria da Terra. Em Janeiro a média fica em torno de 40°C negativos. A névoa que cobre a cidade restringe a visibilidade a 10 metros. Moradores em pesados casacos de pele passam pela praça central, adornada por uma arvore de Natal congelada e uma estatua de Lênin coberta de neve eterna.

Logo descobri que, ali, temperaturas na casa dos 40°C negativos são descritas como "frio, mas não muito frio". Sendo assim, antes de me aventurar pela primeira vez nas ruas de Yakutsk, me encapotei com toda uma mala de roupas. Eis o que estou vestindo: um par de meias de algodão com um par de meias térmicas por cima; um par de botas; ceroulas térmicas; uma calça jeans; uma camiseta térmica; uma camiseta de mangas compridas; um suéter justo de caxemira; um abrigo esportivo; um casaco acolchoado de inverno com capuz; um par de luvas finas de lã (para que eu não exponha a pele quando tirar a luva externa para fazer fotos); um par de luvas de lã; um cachecol de lã e um boné, também revestido de lã.

Saindo do quarto como se fosse o boneco Michelin, e já suando por causa do sistema de aquecimento do hotel, decido que estou pronto para encarar Yakutsk. Caminho porta afora e na hora não acho tão ruim assim...A pequena fresta do meu rosto que está exposta registra o ar frio, mas no geral a sensação é boa... Até agradável. Desde que você esteja vestido corretamente, penso eu, não é assim tão ruim. Em poucos minutos, porém, o clima gélido passa a se impor. A pele exposta começa a dar pontadas e depois fica adormecida, o que aparentemente é perigoso, porque significa que o fluxo de sangue para o local parou.

Então o frio penetra pela dupla camada de luvas e congela meus dedos. O boné e o capuz tampouco são páreo para os 43°C negativos e minhas orelhas começam a pinicar. Em seguida as pernas sucumbem. Finalmente me vejo com dores agudas pelo corpo todo e tenho de voltar a um ambiente fechado. Olho no relógio. Fiquei ao ar livre por 13 minutos.

Yakutsk é a capital de Yakutia, região que abrange mais de 2.6 milhões de quilômetros quadrados e onde vivem menos de 1 milhão de pessoas. A cidade fica a seis fusos horários de Moscou, mas a viagem leva seis horas num precário avião Tupolev. A passagem custa pelo menos R$ 1,8 mil ida e volta, uma enorme quantia num país em que o salário médio é de R$ 930 por mês.

Não há ferrovia até Yakutsk. As outras opções são uma viagem de 1,6 mil quilômetros de barco subindo o rio Lena, nos poucos meses do ano em que ele não está congelado, ou então a "estrada dos Ossos", uma rodovia de 2 mil quilômetros construída por prisioneiros do Gulag (o sistema penal soviético).

Em Yakutsk a maioria dos carros é de importados japoneses de segunda mão, que aparentemente resistem melhor ao frio do que os veículos russos tradicionais. Ainda assim os moradores costumam deixar o motor funcionando se vão parar apenas por meia hora, e alguns o deixam ligado o dia inteiro, durante o expediente de trabalho, para garantir uma temperatura mínimamente tolerável na volta para casa. A fumaça dos escapamentos contribui para a névoa que paira sobre a cidade. A região foi inicialmente conquistada pelos russos na década de 1630. No século 19 era usada como prisão aberta para dissidentes políticos.

Anton Chekhov, em sua Jornada de 1890 pela Sibéria, pintou um quadro sombrio da vida dos prisioneiros dali. “Eles perderam todo o calor que já tiveram”, escreveu. “As únicas coisas que lhes restam na vida são vodca, vagabundas, mais vagabundas, mais vodca... Não são mais seres humanos, mas bestas selvagens. Lênin e Stalin foram dois dos presos políticos exilados em Yakutsk.

A região é rica em ouro e diamantes, razão pela qual os soviéticos decidiram transformar Yakutsk num importante centro regional, primeiro com o sistema de trabalho forçado do Gulag, depois colonizando a região com milhares de voluntários em busca de aventura, melhores salários e a chance de construir o socialismo no gelo. A megaempresa Alrosa, responsável por 20% da oferta mundial de diamantes brutos tem sua sede na região. Com o tempo Yakutsk virou uma cidade de verdade, com hotéis, cinemas, uma ópera, universidades, entrega de pizza e até zoológico.

Apesar de os nativos manterem estoicamente seus afazeres e de crianças brincarem na neve da praça central, percebo que preciso de um táxi para continuar minha exploração. Os 13 minutos que passei ao ar livre me deixaram sem fôlego, praguejando e cheio de dores, o meu rosto tão vermelho que parece que acabo de voltar de uma semana no Caribe.

Desabo na cama do hotel e preciso de meia hora para voltar a sentir meu corpo. A parte mais desagradável começa 15 minutos depois, quando as pernas, de volta a temperatura habitual, sentem uma cãibra quente sendo irradiada de dentro para fora, e todo o corpo começa a coçar.

Vou ao mercado, cheio de gente vendendo peixe, porcos e coração de cavalo, tudo congelado. “É claro que faz frio, mas você se acostuma”, diz Nina, uma yakut que passa oito horas por dia de pé na sua banca de peixes.
“Os seres humanos se acostumam com qualquer coisa.” Mas ainda assim o nível de resistência é difícil de compreender.

Os operários continuam trabalhando na construção civil até os 50°C negativos (abaixo disso o metal se torna quebradiço) e as aulas só são suspensas quando o termômetro cai abaixo de menos 55°C (embora o jardim-de-infância feche com menos 50°C).

Quase sem exceção, as mulheres se cobrem da cabeça aos pés com peles, muitas delas produzidas ali mesmo. Nesse clima a ética pouco importa. “Vi na televisão que na Europa existem lunáticos que dizem que não é legal usar pele porque eles amam os animais”, diz Natasha, uma moradora de Yakutsk que veste um casaco de coelho, um encantador chapéu de raposa ártica e uma bota de pêlo de urso. “Deveriam vir para cá para ver se ainda se preocupam tanto com os animais. Aqui você precisa vestir peles se quiser sobreviver.”