sábado, 12 de julho de 2008

ALARME EM HOLLYWOOD: PELADO NA CALÇADA DA FAMA!

Numa das vezes que eu fui a Los Angeles como guia de uma excursão da Stella Barros que percorria México, Estados Unidos e Canadá, fiquei hospedado no hotel Los Angeles Hilton, a dois passos do Hollywood Boulevard e suas atrações cinematográficas.

Eram 45 passageiros, em sua maioria casais com filhos adolescentes e muitas senhoras solteironas, viúvas ou desquitadas - naquela época no Brasil não havia divórcio - formando um grupo bem animado. Passeamos muito, fomos ao Chinese Theatre ver as marcas dos pés e das mãos dos astros, ao Wax Museum ver as estátuas de cera, andamos pela Calçada da Fama pisando nas estrelas, assistimos a um show no Hollywood Bowl, almoçamos no Farmer’s Market, enfim, tudo o que tínhamos direito.

No terceiro dia liga Tia Eleonora do Rio de Janeiro dizendo que meu primo Luiz Fernando ia passar uma noite em LA e perguntando se podia ficar comigo. Claro que podia, já que desta vez eu estava só, fato raro nas excursões, pois o guia sempre rachava o quarto com outra pessoa para diminuir os custos da excursão.
Ele chegou, batemos um papo rápido e saí com uma turma que queria jantar fora. Luiz Fernando não foi, pois estava cansado e ia embarcar cedo no dia seguinte nem sei mais para aonde.

No grupinho que foi jantar havia um casal de poloneses, os mais velhos do grupo, muito simpáticos por sinal, que fizeram questão de me convidar para sentar com eles e me pagaram a conta. E eu reparei discretamente que nos braços dos dois havia tatuado aquele número infame dos campos de concentração da Alemanha.

Comemos e bebemos e por volta das onze voltamos a pé para o hotel, todos felizes e relaxados. No dia seguinte embarcaríamos para Las Vegas! Entrei no quarto que ficava no 20º andar e ví que o meu primo dormia a sono solto no escuro. Fui ao banheiro, tirei a roupa e cai na cama querendo dormir bem para estar descansado na manhã seguinte.

Dormir bem? Nem pensar! Por volta da meia-noite acordo sobressaltado com o som incrivelmente alto de alarmes de incêndio tocando aos berros pelo hotel todo! Saltei da cama e abri a porta: no imenso corredor várias pessoas de camisola e pijama corriam que nem baratas tontas e tentavam entrar nos elevadores ou descer pelas escadas, gritando e fazendo a maior algazarra.

Voltei ao quarto, abri a cortina da janela e quase infartei quando vi uns sete carros de bombeiro e outros tantos de polícia vindo a mil pela freeway em direção ao hotel, com todas as sirenes ligadas e aquelas luzes coloridas rodopiando e piscando sem parar!

O primeiro carro, imenso - parecia uma limusine vermelha - já quase chegando ao hotel, tinha um barco e dois cachorros dálmatas na parte de cima!
Era uma cena daquele filme "O Inferno na Torre" ao vivo e a cores!

Abri a janela – naquele tempo as janelas dos hotéis americanos ainda abriam - olhei para baixo e vi dezenas de pessoas correndo pela rua a cata de táxis! E ví também a minha possível salvação: a enorme piscina azul clara toda iluminada, bem abaixo do nosso bloco! Se não der para descer, eu pulo!

Mas como eu não vi nem fogo nem fumaça, liguei para a recepção, me identifiquei como o guia do grupo e perguntei o que estava acontecendo. Muito calma, a atendente me disse que aquilo tinha sido um alarme falso! Algum engraçadinho do terceiro andar havia acionado o alarme e os bombeiros estavam tentando desligá-lo. Fiquei aliviado duas vezes: não era incêndio e todos da excursão estavam hospedados acima do décimo andar!

Mas a moça me pediu para descer e ajudar na tradução porque o lobby estava cheio de pessoas desesperadas querendo ir embora, e como muitos não falavam inglês não entendiam o que o staff do hotel explicava.

O hotel tinha oito elevadores, mas quando as portas se abriam você via que já estavam lotados que nem sardinha em lata! Um abriu e fechou as portas rapidamente, mas o bastante para eu ver um japonês de quimono estapeando uma japonesa de camisola ajoelhada no chão tendo uma crise histérica! Outro, muito cheio também, tinha um rabino e várias criancinhas de mantô preto orando! Desisti e acabei descendo a mil por hora pelas escadas em busca dos meus passageiros perdidos.

Cheguei quase sem fôlego ao grande hall e a confusão era indescritível! Gente de todos os tipos e idades vestindo shorts, camisolas, mantôs, capas de chuva, tudo o que puderam pegar às pressas. Uns choravam, outros tremiam, mães agarravam seus filhos, crianças corriam no meio dos bombeiros, garçons traziam bandejas com montes de latas de coca-cola, um gerente do hotel dava ordens de megafone, enfim, uma zorra total!

Duas senhoras do grupo me chamaram e disseram que os poloneses estavam na calçada pegando um táxi para fugir do fogo que não existia! Saí correndo, desci a escadaria e realmente vi a senhora já sentada no táxi de vestido de pailleté – acho que foi a primeira coisa que ela pegou no armário – e o marido colocando as malas no bagageiro. Corri até o carro na calçada e pedi para voltarem, expliquei que tinha sido um alarme falso, que não havia perigo algum, etc e tal.

A senhora, muito emocionada mas me olhando de um modo bem esquisito, disse baixinho: “Luiz, nós já escapamos de um fogo uma vez e não queremos arriscar novamente”. Fiquei atônito com esta frase e ajudei-os a subir a escadaria de volta ao lobby, acompanhando-os até o elevador. E aí o marido virou para mim e disse: “Luiz, obrigado por tudo, mas da próxima vez você podia vestir alguma roupa!”.

Foi aí que eu olhei para baixo e me dei conta que estava apenas de cueca no meio daquela zona toda! Cueca, não! De Zazá, que era uma espécie de biquíni de pano com dois elásticos na lateral, praticamente pelado! Eu saí do quarto tão enlouquecido que nem percebi que tinha dormido sem pijama! Ainda bem que o corpinho estava em plena forma!
E assim mesmo continuei pelos corredores do hotel catando os remanescentes da turma até o fim.

No dia seguinte, no ônibus que nos levou ao aeroporto, o assunto era a confusão da véspera. Vocês acreditam que metade do grupo nem ouviu o alarme e a gritaria e pensou que tínhamos inventado a história toda? E meu primo Luiz Fernando, que acordou mais cedo e apenas deixou um bilhete de até logo, quando nos encontramos algumas semanas depois no Brasil, também não sabia de nada?

E se fosse mesmo um incêdio?

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