sexta-feira, 3 de agosto de 2007

OS PAVÕES DOIDÕES DE KAHUKU POINT!

Lá pelo início dos anos 80, depois de um casamento desfeito, tirei uns dias de férias para esfriar a cuca e voei para Los Angeles encontrar meus dois amigos Roberto e Patrícia que estavam morando lá. Foi só eu chegar e nossos planos mudaram: resolvemos ir para o Havaí! Compramos as passagens e lá fomos nós, no tal vôo em que demos de cara com o Sting e o Police e que eu já contei aqui no blog.

Em Honolulu, com não tínhamos reserva de hotel, ficamos por dois dias com um amigo deles, o Paul, que morava numa incrível casa redonda de madeira construída por ele mesmo no topo de um morro em Kahuku Point, a região mais ao norte da ilha de Oahu. Lá de cima viam-se todas as praias de North Shore e mais: Waimea, Velziland, Pipeline, Sunset Beach e ainda Rocky Point e Off the Wall. Todos os dias as seis da matina o Paul pegava uma luneta e checava todas as praias para ver onde o “swell” estava melhor, telefonando em seguida para todos os amigos surfistas que imediatamente jogavam as pranchas nos seus calhambeques ferrados e partiam em busca da “big one”!

O Paul ficava em casa revelando fotografias e também cuidando da sua cultura de “pakalolo” – maconha em havaiano - plantada em vasos de vários tamanhos para facilitar a remoção em caso de perigo.
E o perigo vinha em forma de helicópteros da polícia que de vez em quando sobrevoavam as montanhas mais afastadas buscando exatamente essas plantações proibidíssimas da famosa erva. Era só ouvir o barulho das hélices e quem estivesse em casa saía correndo para pegar os vasos e escondê-los dentro da sala, longe dos xeretas binóculos infravermelhos. Passado o perigo, lá vinham os vasos de novo para o sol para a erva continuar a crescer...

Na casa vizinha a do Paul morava um casal que criava pavões, lindos e bobos, que volta e meia passavam pela cerca viva e vinham ciscar do lado de cá. Nós que estávamos na varanda batendo papo víamos aqueles pavões tão bonitos, mas sempre com as caudas fechadas, muito sem graça, que nem um bando de galinhas azuis, verdes e brancas. Até que um dia, de repente, do meio da folhagem surge um enorme pavão branco com as plumas da cauda bem abertas, como um grande e lindo leque! Atrás dele, que parecia um verdadeiro destaque de carro abre-alas de escola de samba, vinham os outros pavões todos, uns vinte, eu acho, também com os rabos bem abertos, formando uma linda ala de passistas. E todos grasnando, rebolando e felicíssimos da vida, como se tivessem tirado o grande premio no desfile do Primeiro Grupo!


Ficamos todos muito impressionados com aquele show, não entendendo a razão de tamanha euforia animal, até que ouvimos um grito do Paul vindo dos fundos. Fomos correndo lá atrás e só então sacamos o que tinha acontecido: os pavões haviam descoberto os vasos de “pakalolo” e bicado e comido todas as folhas até a altura onde podiam alcançar, dizimando a plantação e só deixando umas míseras folhinhas no topo de cada pé! Paul queria pegar uma espingarda e matar as aves doidonas, e só a muito custo o convencemos a deixar para lá e começar uma nova plantação. Não sem antes espantarmos com tocos e pedras os pavões para todos os lados, sendo que alguns saíram até voando pelos céus havaianos...

Depois disso nós alugamos um "condo" no Kuilima, em Turtle Bay durante um mês, e quase todos os dias, na estrada ou nas praias, eu acabava cruzando com algum pavão de leque aberto meio perdido com o olhar chapado, com certeza ainda no maior barato...

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