Não há cidade no mundo mais impressionante do que Tóquio. Milhares de pessoas andando sem parar pelas ruas, a qualquer hora do dia e da noite, como formiguinhas num formigueiro. Mil letreiros em neon anunciando coisas fantásticas, prédios altíssimos de uma modernidade estonteante lado a lado com templos dourados, garotada punk cheia de piercings e tatuagens convivendo pacificamente com monjes com compridas barbas brancas e velhinhas de quimono e guarda-chuvas debaixo do braço. E uma bolsa Vuitton pendurada no ombro!
Na primeira vez que eu fui ao Japão, como guia de uma excursão da agência Stella Barros, tudo me fascinou nessa terra tão diferente e cheia de novidades eletrônicas. E essas novidades começavam no próprio hotel, que apesar de antigo por fora era todo automático por dentro. O telefone da mesinha de cabeceira controlava tudo no quarto, da TV às cortinas, do ar condicionado à intensidade das lâmpadas. O relógio do quarto e os controles de água quente e fria do banheiro eram todos digitais. E o pessoal da excursão – em sua maioria casais mais velhos – custou a aprender a lidar com essas geringonças. Tudo bem que hoje em dia isso é banal, mas o ano era 1973 e no Brasil os relógios ainda tinham ponteiros e faziam tic-tac...
Aterrissando depois de não sei quantas horas de um vôo da Japan Airlines vindo de San Francisco, e mais o fuso de 12 horas à frente, chegamos em Tóquio todos birutas e sonados. Entrei no banheiro para tomar um banho e comecei a ficar tonto. Voltei para o quarto para deitar na cama e melhorei. Fui para o banheiro e fiquei zonzo de novo! Que coisa estranha, pensei, deve ser o cansaço. Voltei ao quarto e fiquei bom novamente! Entrei mais uma vez no banheiro e quase caí no chão! O que estava acontecendo? Um santo samurai baixando em mim?
Só depois é que eu descobri o que provocava isso tudo: o banheiro era construído em uma peça única de um tipo de plásico beige que moldava o vaso, a banheira com o chuveiro, a pia, o armário com espelho, tudo numa forma só, sem cantos vivos, como uma cápsula, povocando uma impressão de falta de profundidade muito esquisita. Você não via a distância entre as peças e o seu cérebro dava um nó, provocando a tonteira. Falei com a turma por telefone e todos também estavam tontos! Desci até a recepção e um japinha muito simpático e sorridente me explicou que isso acontecia com todos os ocidentais que não estavam acostumados com esses banheiros pré-moldados, e o jeito era entrar devagar olhando para o teto, sentar no vaso e esperar até o seu olhar se acostumar com aquelas formas arredondadas. Estranhíssimo, mas deu certo. Aos poucos a cuca ia aceitando o que os olhos viam e passava a tonteira. Depois rimos muito, mas na hora a aflição foi horrível.
Visitamos toda a cidade em quatro dias, mas o que mais me chamou a atenção foi o Palácio Imperial, construído pelo primeiro Shogun em 1590, com seus telhados de ardósia, sua ponte de entrada em arcos e seus jardins cheios de lanternas transmitindo uma serenidade e imponência difícil de entender hoje em dia no meio de uma cidade tão moderna.
Adoramos o famoso bairro Ginza, onde antes era um pântano e que virou um grande centro de negócios e comércio, com os cruzamentos das ruas fervilhando de pessoas até de madrugada. Lá fica o Sony Building onde estão expostas as novidades para você mexer e experimentar. E tome de novidade todas as semanas!
Do outro lado está a imensa loja de departamentos Mitsukoshi que abre todos os dias com uma tradicional cerimônia assistida pelo público que adora ver os empregados de luvas brancas saudar a todos antes das portas se abrirem. Não deixe de visitar o andar só de quimonos e comprar um para você. Não há roupa mais confortável no mundo do que um quimono, acredite!
Mais à frente fica a Mikimoto, que vende as pérolas cultivadas na famosa ilha do mesmo nome e o Teatro Kabuki-za, um dos melhores exemplos de arquitetura oriental utilizando material e técnica de construção ocidentais. O teatro é imenso e vive lotado de gente de todas as nacionalidades, apesar das intermináveis e quase sempre estranhas (para nós) representações. Ninguém do grupo conseguia ficar sério ao ouvir os gritos agudíssimos dos atores com aquelas caras pintadas de mau. Tivemos que sair no meio para não dar vexame ou ser expulsos!
Outra loja enorme e muito boa é a Matsuya, que vende de tudo. No último andar fica a Restaurant City, um grande salão oferecendo mil opções de comidas do mundo todo, o que não deixa de ser bom quando os sushis e sashimis começam a enjoar e você passa a não aguentar mais nem o cheiro das algas e do shoyu ...
E olha que nós todos já gostávamos muito da comida. Mas cá entre nós, comida japonesa só quando dá vontade, e não três vêzes ao dia todos os dias! Nós ficamos duas semanas no Japão e era só chegar à uma nova cidade que a turma me perguntava logo de cara: “Luiz, onde fica o McDonalds mais próximo?”
Você sabe comer com os hashi japoneses? É bem fácil, veja só:
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Depois que todas as grifes mais famosas passaram a ser idolatradas pelo povo japonês, que com o poder dos iênes comprava sem parar nas suas viagens pelo mundo afora, o lógico aconteceu: hoje as maiores e mais sensacionais lojas estão lá, uma ao lado da outra nas ruas Namiki-Dori e Chuo-Dori. Olha só a da Prada aqui em cima! É engraçado ver a turma fazendo fila no caixa para pagar suas bolsas de 5 mil dólares no Vuitton, Fendi ou Hermès como se estivesse num supermercado da esquina fazendo as compras do mês...
Tudo no Japão é muito caro para o nosso bolso, e chama a atenção como as pessoas estão sempre bem vestidas com roupas e principalmente calçados da melhor qualidade. A não ser câmeras fotográficas, aparelhos de som e eletrônicos, nós não conseguíamos comprar nada! E isso se encontrássemos alguma coisa do nosso tamanho, pois pela estatura média dos japoneses a maior camiseta dêles nem entrava na gente! E custava a bagatela de 100 dólares!
Mas fizemos a festa com queimadores de incenso, objetos de bambu, cerâmicas de todos os formatos, cumbucas e potes de laca, lanternas de papel, ventarolas e leques de palha, pequenos espanadores de pena de rabo de galo, hashis de todos os tipos e cores, papéis artesanais com belas caligrafias, bules de chá de ferro, coisas lindas que decoram minha casa até hoje.
Nos quartos do hotel havia um estranho menu oferecendo diversos tipos de massagens que podiam ser feitas a qualquer hora do dia ou da noite. Mas massagens sérias, diga-se de passagem. A nossa guia local Hitomi falava que nós todos devíamos fazer pelo menos uma massagem tradicional japonesa para experimentar e relaxar, como era o hábito dêles. Cansado de andar o dia inteiro visitando templos e museus, no segundo dia peguei o livreto, escolhi uma do tipo shiatsu - pelo menos essa palavra eu consegui decifrar no meio de outros mil caracteres - liguei para a recepção e encomendei a tal massagem que custava 30 dólares, bem baratinha para o padrão nipônico de preços!
Em menos de cinco minutos ouço umas batidinhas na porta. Olhei pelo ôlho-mágico e não vi ninguém. Mais batidinhas e resolvi abrir a porta. Também não vi ninguém. Aí senti uma puxadinha no meu quimono, olhei para baixo e vi a menor velhinha japonesa do mundo de quimono azul e cabelos brancos em coque, mais baixa que a minha cintura! Com uma carinha franzida e falando muitos "dozo" e "hai", foi me empurrando e fazendo sinais para eu deitar na cama de bruços. Obedeci imediatamente e de repente a velhinha deu um pulo que nem lutador japonês de filme de karatê e aterrissou em pé em cima da cama.
Começou então a andar sobre as minhas costas massageando a coluna com aquêles pézinhos mínimos, andando para frente, para trás, para cima e para baixo bem rapidinho! E andava também na minha cintura, nos ombros, nas coxas, nas pernas, até na bunda, sempre apertando os músculos e nervos com os dedinhos dos pés, com uma força impressionante, sensacional!
Uma hora depois quando terminou a sessão, ela deu outro pulo igual a um Power Ranger para o chão e foi saindo de costas fazendo mil reverências e falando vários "domo arigato" e "sayonara". Eu, completamete largado e arrasado na cama, falava em inglês que queria pagar a massagem e ela resmungava em japonês enquanto saía com seu passinho rápido. Só depois é que eu soube que o pagamento viria na conta do quarto, igual a uma despesa qualquer de room-service, e com a gorgeta já incluída. Foi a melhor massagem da minha vida – a melhor não, a primeira de uma grande série, porque a partir desse dia nós todos fazíamos massagens todo dia! E cada dia escolhíamos uma diferente, como a guia havia recomendado.
Quando você viajar para Tóquio, não deixe de visitar o Tokyo National Museum que abriga a maior coleção de arte e objetos japoneses de todas as épocas. É de cair o queixo!
Conheça e passe algumas horas no templo Senso-ji, também conhecido por Asakusa Kannon, o mais espetacular templo que você vai ver na sua vida, construído no ano 645!
E passeie no Parque Ueno, uma das maiores áreas verdes da cidade, cheio de lagos, templos, santuários e museus.
E se a sua viagem coincidir com a primavera e as cerejeiras estiverem em flor, você também nunca mais vai se esquecer do Japão, como eu...
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Um problema sério em Tóquio é o preço dos hotéis!
Nessa primeira vez eu fiquei hospedado no antigo e maravilhoso Imperial Hotel, que hoje em dia tem diárias a partir de 900 dólares! O hotel, entre muitas outras coisas, tem 16 restaurantes!
Já na segunda vez o nível de preço e elegância baixou consideravelmente, pois fiquei no Mitsui Urban Hotel Ginza, um bom hotel para executivos, simples, prático e confortável, que oferece hoje razoáveis diárias de 250 dólares.
Mas espero que na próxima eu possa me hospedar no Park Hyatt, o espetacular hotel do Bill Murray e Scarlett Johansson no filme da Sofia Coppola "Lost in Translation", moderníssimo e muito chique, cujas diárias começam em 550 dólares.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
ENTRE QUIMONOS E MASSAGENS EM TÓQUIO
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